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Sucessão nos EUA: voluntários tentam atrair indecisos

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Nunca os partidos Democrata e Republicano exploraram tanto o trabalho de seus apoiadores como nas eleições deste ano. Desde as primárias, as páginas dos candidatos propõem várias formas de os voluntários ajudarem os candidatos, seja por meio de telefonemas para outros eleitores ou do envio de e-mails para amigos. No último mês de campanha, no entanto, a pressão para que os partidários se mobilizem ficou ainda mais intensa, e as opções de voluntariado, mais diversificadas. Agora, a recomendação é bater de porta em porta atrás de eleitores indecisos, oferecer a casa para sediar eventos ou hospedar um voluntário e até deixar os compromissos de lado para fazer campanha nos battleground states ; estados que serão decisivos para a disputa (veja o mapa). Tudo para garantir que o eleitor saia de casa para votar em 4 de novembro. ;Existe uma enorme mobilização para convencer as pessoas a votarem em ambos os lados, mas especialmente na campanha de Barack Obama. Dada a quantidade de dinheiro e entusiasmo associados com a campanha democrata, há muitas pessoas viajando, organizando transporte para as votações e convencendo os eleitores a comparecerem às urnas;, destacou o cientista político da Penn State University Frank Baumgartner. O vereador de Santa Ana, na Califórnia, David Benavides, 32 anos, é um desses voluntários. No último fim de semana de setembro, ele viajou até Las Vegas, no estado vizinho de Nevada, para convencer os eleitores a se registrarem. Com ele, mais de 100 voluntários percorreram casa por casa. A tática era sempre a mesma: abordar os moradores com uma brincadeira para ;quebrar o gelo; e depois falar da importância do voto. ;Nevada é um battleground state crítico, onde os votos do colégio eleitoral estão realmente no ar. O que pretendemos aqui é ficar frente a frente com os eleitores, e é o que temos feito;, disse Benavides ao jornal local Orange County Register. Em estados importantes para a disputa, como a Pensilvânia, até a ajuda dentro de universidades é bem-vinda. Sean Meloy, de 21 anos, morador de State College, é um dos voluntários que tenta convencer os colegas da Penn State University sobre a necessidade de fazer parte do processo de escolha do novo presidente. ;Eu ajudo a campanha de Obama porque ele é a mudança que precisamos em Washington. John McCain vai continuar a administração Bush por mais quatro anos se for eleito. Não podemos deixar que isso ocorra;, afirmou Meloy, em entrevista ao Correio. Diferença Para o estudante, que é presidente do grupo democrata dentro da universidade, a campanha de Obama precisa dos voluntários porque seu partido ;não conta com o apoio dos ricos, como o Partido Republicano;. ;Assim como cada voto pode fazer a diferença, cada voluntário também pode. De bater de porta em porta a telefonar para eleitores em potencial, os apoiadores realizam tarefas essenciais para a campanha;, destacou o jovem, que organiza debates e faz campanha dentro do câmpus. Apesar de os democratas conseguirem mobilizar mais simpatizantes ativos, os republicanos não ficam atrás e conseguem motivar a participação de jovens em estados democratas, como a Califórnia. O iraniano Soroush Mehraein, de 17 anos, entrou para a campanha de John McCain em junho e já virou uma espécie de ;recruta; de outros voluntários. ;Nós começamos fazendo ligações para encontrar voluntários e walkers (pessoas que vão de casa em casa), e oferecendo cédulas para votar de casa ; mas não dizendo diretamente para as pessoas votarem em McCain;, explicou Mehraein. Hoje, o estudante ajuda a organizar e orientar os voluntários do condado de Orange (Califórnia). ;Com a baixa participação nas urnas que temos no país, acredito que qualquer coisa que motive as pessoas a participar do processo político é positivo para a nossa nação;, afirmou. Mobilização pela internet A empolgação em torno dos voluntários é grande dentro das equipes dos candidatos. Nas últimas duas semanas, os apoiadores inscritos nos sites de Obama e McCain quase diariamente receberam e-mails pedindo mobilização. ;Entrar em contato com os eleitores indecisos em seu estado é vital para divulgar que McCain e Sarah Palin são a escolha certa para os eleitores de todo o país. O trabalho que fazemos vai construir a base para a vitória em novembro;, destaca uma mensagem republicanas. Para a especialista em política americana Cristina Pecequilo, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no entanto, esse tipo de ação deverá surtir maior efeito sobre os eleitores que já têm o candidato definido do que para os independentes e indecisos. ;Eles querem motivar o eleitor a dar o apoio nas urnas e não só nas pesquisas de opinião. No caso de Obama, isso é mais importante porque ele tem uma grande parcela de eleitores jovens, que geralmente não participam muito da votação em si.; O alto grau de engajamento dos democratas nessas eleições surpreendeu a especialista. ;Esse movimento conseguido pela campanha de Obama é inédito, porque os democratas sempre tiveram uma postura um pouco arrogante em relação a esse voluntariado;, diz Pecequilo. Frank Baumgartner, da Penn State University, acha que o ;esforço sem precedentes; vai trazer um bom resultado nas urnas. ;Os esforços para mobilizar eleitores poderão fazer uma grande diferença. Principalmente entre os jovens, muito empenhados nessa eleição;.