Londres - Os policiais que confundiram o eletricista Jean Charles de Menezes com um terrorista chegaram a pensar que ele não era suspeito, mas mudaram de opinião e o mataram, afirmou nesta terça-feira (30/09) uma detetive da Scotland Yard durante seu depoimento no inquérito público realizado em num tribunal improvisado em um campo de críquete no sul de Londres.
Os policiais à paisana que vigiavam o apartamento do brasileiro acharam inicialmente que ele podia ser o suspeito Hussain Osman, mas depois descartaram a hipóstese, indicou Angela Scott, que no dia, 22 de julho de 2005, estava no centro de operações da Scotland Yard.
A agente explicou que, quando Jean Charles chegou à estação de metrô de Stockwell, a equipe de vigilância comunicou ao comando da Scotland Yard que não acreditava que o homem que estavam seguindo fosse Osman, suspeito de ter participado nos fracassados atentados em Londres.
A Scotland Yard decidiu então que o homem que seguiam devia ser preso e interrogado. Mas, em seguida, os policiais mudaram de opinião, minutos antes de Jean Charles entrar em Stockwell, onde dois agentes da Scotland Yard o mataram com sete tiros na cabeça, informou a detetive.
"Disseram que era ele", contou Scott, sem explicar a razão pela qual mudaram de opinião, nem por que deixaram que o suspeito entrasse na estação de metrô.
O centro de comando da Scotland Yard estava nesse dia as ordens de Cressida Dick, agora subcomissária da Scotland Yard, indicou a testemunha. Uma das testemunhas mais esperadas era Cressida Dick, que foi absolvida no julgamento da Scotland Yard no tribunal criminal de Old Bailey.
Na véspera, o inquérito público sobre a morte de Jean Charles entrou nesta segunda-feira em sua segunda semana com o depoimento do então chefe de todas as operações antiterroristas na Grã-Bretanha, Peter Clarke.
Enquanto o advogado dos familiares de Jean Charles, Michael Mansfield, seguia com sua estratégia de demonstrar as diversas falhas cometidas pela Polícia britânica na operação na qual o brasileiro morreu, Clarke mencionou a "intensa pressão" que havia nesses dias sobre a Polícia.
"Era um período de intensidade sem precedentes, em termos de atividade policial", afirmou Clarke, destacando na corte o ambiente de nervosismo que existia na Polícia, que temia outros atentados em Londres.
Duas semanas antes de o eletricista de 27 anos ser morto por agentes da Scotland Yard na estação de metrô de Stockwell, no sul de Londres, quatro terroristas suicidas atacaram a rede de transportes londrina, deixando 52 mortos e centenas de feridos na capital, lembrou Clarke.
Um dia antes, em 21 de julho de 2005, quatro terroristas tentaram repetir esses ataques, mas falharam, ressaltou o coordenador nacional de todas as unidades antiterroristas na Grã-Bretanha, que deixou seu cargo neste ano.
O juri ouviu também o testemunho de um membro da equipe de policiais antiterroristas que participou dessa operação, que já havia sido alvo de um processo criminal e de uma investigação minuciosa da Comissão de Queixas contra a Polícia. Sessenta e cinco policiais prestarão depoimento neste inquérito sobre a morte de Jean