Londres - O inquérito público sobre a morte de Jean Charles de Menezes, morto em julho de 2005 pela Polícia de Londres, entrou nesta segunda-feira (29/09) em sua segunda semana com o depoimento do então chefe de todas as operações antiterroristas na Grã-Bretanha, Peter Clarke.
Enquanto o advogado dos familiares de Jean Charles, Michael Mansfield, seguia com sua estratégia de demonstrar as diversas falhas cometidas pela Polícia britânica na operação na qual o brasileiro morreu, Clarke mencionou a "intensa pressão" que havia nesses dias sobre a Polícia.
"Era um período de intensidade sem precedentes, em termos de atividade policial", afirmou Clarke, destacando na corte o ambiente de nervosismo que existia na Polícia, que temia outros atentados em Londres.
Duas semanas antes de o eletricista de 27 anos ser morto por agentes da Scotland Yard na estação de metrô de Stockwell, no sul de Londres, quatro terroristas suicidas atacaram a rede de transportes londrina, deixando 52 mortos e centenas de feridos na capital, lembrou Clarke.
Um dia antes, em 21 de julho de 2005, quatro terroristas tentaram repetir esses ataques, mas falharam, ressaltou o coordenador nacional de todas as unidades antiterroristas na Grã-Bretanha, que deixou seu cargo neste ano.
As autoridades haviam recebido relatórios de inteligência que indicavam que outros ataques em Londres "eram iminentes", afirmou Clarke, afirmando que o temor de outros atentados levou inclusive ao fechamento do Palácio de Buckingham, do Parlamento e dos escritórios da Scotland Yard, durante mais de uma hora.
"Ninguém podia sair nem entrar nesses edifícios durante uma hora e meia, no dia 12 de julho" de 2005, depois da descoberta de uma fábrica de bombas em Leeds (norte da Inglaterra) e do veículo dos terroristas suicidas no aeroporto londrino de Luton, disse.
O homem à frente das operações antiterroristas na Grã-Bretanha contou à corte a razão pela qual não estava em Londres no dia em que Jean Charles recebeu sete tiros na cabeça em um vagão de metrô, ao ser confundido com um terrorista.
Disse que um de seus filhos estava na estação de King Cross no dia 7 de julho de 2005, dia em que esta foi atingida por um atentado. Embora o jovem não tenha sido uma das vítimas, sua mãe estava muito nervosa e a família levou alguns dias para se juntar, saindo de Londres no dia 21 de julho.
"Infelizmente, não estava aqui no dia 22 de julho", disse, indicando que retornou a Londres na noite do dia em que um inocente foi morto com sete tiros tiros a queima-roupa por policiais cuja missão é velar pela segurança da população.
O juri ouviu também o testemunho de um membro da equipe de policiais antiterroristas que participou dessa operação, que já havia sido alvo de um processo criminal e de uma investigação minuciosa da Comissão de Queixas contra a Polícia.
Sessenta e cinco policiais prestarão depoimento neste inquérito sobre a morte de Jean Charles, dos quais 49 o farão em anonimato, separados da imprensa e do público por uma grande tela que divide a sala da corte.
Uma das testemunhas mais esperadas é Cressida Dick, que foi a responsável direta pela operação na qual o imigrante brasileiro morreu e que foi promovida a subcomissária adjunta da Scotland Yard.
Dick, que foi absolvida no julgamento da Scotland Yard no tribunal criminal de Old Bailey, deverá explicar à corte por que deu a ordem de atirar para matar em Jean Charles.
A corte ouviu na semana passada que a Polícia confundiu o brasileiro com um dos quatro terroristas dos atentados frustrados do dia anterior, Hussein Osman, apesar de alguns policiais que seguiram Jean Charles sequer terem visto as fotos que, além de tudo, não eram muito nítidas.