CIDADE DO CABO - O Parlamento da África do Sul elegeu nesta quinta-feira (25/09) como presidente do país Kgalema Motlanthe, em sucessão a Thabo Mbeki, cuja polêmica renúncia afundou o país na pior crise política desde o fim do apartheid. Motlaanthe recebeu os votos de 269 dos 360 deputados, anunciou o presidente do Tribunal Constitucional, Pius Langa.
"Declaro o honorável Kgalema Motlanthe presidente legitimamente eleito da República da África do Sul", proclamou Langa. Motlanthe, 59 anos, é o terceiro chefe de Estado sul-africano desde o fim do apartheid e a instauração da democracia multirracial em 1994. Ele sucede Mbeki, forçado a renunciar pelo partido governista, o Congresso Nacional Africano (ANC).
O novo presidente, um ex-sindicalista com fama de moderado e que era vice-presidente do ANC, terá como principal missão apaziguar a luta interna no partido para as eleições gerais previstas para o segundo trimestre de 2009. O ANC retirou o voto de confiança de Mbeki por considerar que ele pressionou a justiça a indiciar, por corrupção, o presidente do partido, Jacob Zuma.
A eleição parlamentar também registrou 41 votos anulados e 50 para Joe Sereman, candidato da opositora Aliança Democrática (AD). Motlanthe, conhecido como "irmão mais velho" por sua prudência, vai tomar posse ainda nesta quinta-feira.
O presidente do ANC e inimigo de Mbeki, Jacob Zuma, acompanhado de outros pesos pesados políticos sul-africanos, acompanhou a sessão na galeria, que estava lotada, destinada ao povo no Parlamento. Zuma, que tirou de Mbeki a liderança do ANC em dezembro de 2007 em um congresso partidário com ares de rebelião, tem tentado minimizar o alcance dos acontecimentos dos últimos dias.
"Não há nenhum problema, a situação está sob controle, não se deve cair em pânico", disse ao canal e-tv news, antes de afirmar que a decisão de retirar a confiança a Mbeki foi uma das "mais duras e difíceis" da história do ANC. Motlanthe assistiu na quarta-feira a última reunião de gabinete presidida por Mbeki, em uma tentativa de passar uma mensagem de continuidade depois que um terço do Executivo pediu demissão, em apoio ao presidente renunciante.
A crise sul-africana era marcada há meses pela disputas internas no ANC e explodiu no fim de semana passado, quando o partido, alegando que queria proteger sua unidad, retirou a confiança de Mbeki. O ANC adotou a medida depois que a Justiça deu a entender que Mbeki havia abusado de seu poder para fazer com que Jacob Zuma fosse procesado por corrupção, o que impediria a chegada do rival ao poder.
Zuma, que se nenhuma surpresa for registrada assumirá o lugar de Motlanthe após as eleições, foi julgado por estupro e absolvido, além de acusado duas vezes por corrupção antes que a Justiça abandonasse o caso, a primeira vez por falta de provas e a segunda por falhas técnincas no processo.
Na carta de despedida, Mbeki afirma que aceita a decisão do partido "sem resistência nem rancor". No entanto, o fim repentino de seus nove anos de governo mancha o legado do homem que substituiu o emblemático Nelson Mandela.
Além disso, aconteceu em um momento de incerteza econômica, agravado pela demissão do ministro das Finanças, Trevor Manuel, principal responsável pelo grande crescimento econômico da maior economia continental.
Uma das reações mais significativas aos acontecimentos foi a do presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, há 28 anos no poder, que considerou "devastadora" a notícia da renúncia de Mbeki. O agora ex-presidente sul-africano foi o mediador na recente crise política do país vizinho.