WASHINGTON - Cinqüenta anos depois de sua criação, em plena Guerra Fria, com o objetivo de vencer o desafio da antiga URSS e confirmar a superioridade dos Estados Unidos com a conquista da Lua, a Nasa procura superar as dificuldades que enfrenta para tentar manter sua liderança no setor espacial diante das ambições nesse sentido de potências emergentes como a China.
A data está sendo comemorada pela agência espacial americana com uma série de atividades realizadas ao longo deste ano. Criada por um voto no Congresso em 29 de julho de 1958, a Nasa iniciou suas atividades oficialmente em 1º de outubro do mesmo ano, numa decisão diretamente ligado ao lançamento do Sputnik 1 pelos soviéticos em 4 de outubro de 1957.
Esta ocorrência deu início a uma competição acirrada entre as duas superpotências para demonstrar sua superioridade tecnológica e, além disso, a superioridade de seu sistema político.
"A corrida para a Lua foi mais do que uma exploração espacial ou um ato de orgulho nacional, foi vista como uma verdadeira prova da validade de nossa democracia e do conceito de liberdade", comentou Michael Griffin, atual administror da Nasa. "Além disso, a URSS mostrou que as conquistas no espaço podiam garantir poder e influência no mundo", acrescentou.
Depois do desafio apresentado pelo presidente John Kennedy de colocar o homem na Lua em menos de dez anos, a Nasa se lançou, em seguida, à exploração espacial, apesar do revés com a perda de duas naves espaciais.
A Nasa ainda é o líder no setor do espaço e pretende se manter nesta posição com o projeto Constellation revelado, em 2004, pelo presidente George W. Bush e que prevê a volta dos americanos à Lua até 2020, seguida de missões habitadas para Marte e outros planetas. Mas a agência vem apresentando sinais de dificuldades porque seu orçamento não parece mais estar à altura de suas ambições, lamentam fontes internas.
Por falta de recursos, os vôos das três naves serão interrompidos em 2010 para poder financiar seu sucessor, o ônibus espacial Orion, do programa Constellation. Mas ele não voará antes de 2015. Nestes cinco anos, os Estados Unidos dependerão dos Soyuz russos para transportar seus astronautas à ISS, um investimento de 100 bilhões de dólares que eles, em grande parte, financiaram.
Esta situação é ainda mais precária com os rebentos da Guerra Fria decorrentes da recente crise na Geórgia. "Acho perigoso ficar nesta situação", declarou Griffin há alguns dias. "Se alguma coisa acontecer com os Soyuz, não teremos mais acesso à ISS", lamentou.
Preocupados, membros do Congresso e o candidato republicano à presidência, John McCain, pediram à Casa Branca para examinar a manutenção dos vôos das naves. Esta decisão será provavelmente tomada pelo próximo presidente americano eleito em novembro, segundo John Logsdon, ex-diretor do Space Policy Center na Universidade George Washington.
Num e-mail interno recentemente publicado na imprensa americana, Griffin demonstra sua insatisfação com as reduções no orçamento e a atitude do Birô de Orçamento da Casa Branca (OMB) quanto à questão do acesso americano à ISS após 2010. Ele lamentou também o fato de o OMB ter apagado de seu projeto de apresentação do Congresso em março uma frase de advertência contra os riscos de perda da superioridade americana no espaço e a emergência rápida da China como rival.
"Uma aterrissagem dos chineses na Lua antes de nós voltarmos lá seria vista como um recuo dos EUA para trás não somente da Rússia como também da China", afirmou. Griffin explicou em um comunicado que seus emails foram colocados fora de contexto e reafirmou apoiar a interrupção dos vôos das naves em 2010. Uma fonte próxima à Nasa indicou que está convencida de que a China pode colocar homens na Lua até 2017, ou seja antes do retorno previsto dos americanos.