PEQUIM - A terceira missão espacial tripulada chinesa e a primeira que inclui o passeio de um astronauta chinês fora da nave decolará nesta quinta-feira à noite, conforme previsto, informou o porta-voz do programa, Wang Zhaoyao. O foguete Longa Marcha, com a cápsula Shenzhou VII ("nave divina") e três tripulantes, Zhai Zhigang, Liu Boming e Jing Haipeng, todos pilotos da força aérea, decolará da base de Jiuquan, noroeste da China, entre as 21h07 e as 22h27 locais (10h07 e 11h27 de Brasília).
Zhai Zhigang deve realizar, durante a missão de 68 horas, uma caminhada espacial de 40 minutos, transmitida por meio de um satélite. A expedição aproximará o programa espacial chinês, lançado há mais de meio século, de seu objetivo de construir um pequeno laboratório orbital e, posteriormente, uma estação, com a ambição posterior de levar um chinês à Lua.
"Apesar de não sermos os melhores, temos um grande orgulho de isso tudo ser obra nossa, 100% chinesa", afirmou à revista Notícias da China o pai do programa Shenzhou, Qi Faren, engenheiro aposentado, mas que continua atuante como assessor. A China se converteu em 2003, com a missão Shenzhou V, no primeiro país a ter colocado em órbita vôos tripulados depois da União Soviética e Estados Unidos.
A Shenzhou VI, realizada dois anos depois, levou dois astronautas ao espaço. "O programa chinês pode ser definido como ambicioso, mas é progressivo e prudente", avalia Joan Johnson-Freese, especialista americano em programa espacial chinês. "O aumento paulatino de tripulantes corresponde a esse enfoque e segue o modelo usado pelos soviéticos e americanos", acrescenta.
"Mas com astronautas que saem ao espaço com um cordão umbilical, os chineses estão mais próximo das realizações dos anos 60 do que do scooter espacial ou do braço teledirigido dos ônibus espaciais americanos", destaca Isabelle Sourbes-Verger, especialista francesa. Para Johnson-Freese, a Shenzhou VII deve permitir que a China avance para a construção de um pequeno laboratório espacial.
Segundo Qi Faren, a próxima missão Shenzhou deve ser realizada em 2010. Haverá três viagens sucessivas, as duas primeiras sem tripulação, para colocar em órbita dois módulos que servirão de base para o futuro laboratório. A terceira, Shenzhou X, tripulada, se acoplará aos módulos e realizará experimentos científicos, explicou Qi, que prevê a construção de uma estação espacial chinesa em 2020.
O lançamento desta quinta - uma semana antes da festa nacional de 1o. de outubro e poucas semanas depois dos Jogos Olímpicos - permitirá ao governo comunista chinês passar a imagem de um país triunfante, tentando relegar para segundo plano o escândalo do leite contaminado que provocou a morte de quatro crianças e doenças em dezenas de milhares.