Jornal Correio Braziliense

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Simples como as grandes invenções

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A AIDS acomete uma grande parcela da população mundial. Grupo de risco se tornou um conceito anacrônico ou, pelo menos, atenuado. Uma das formas significativas de contágio é a transmissão através do aleitamento materno, via pela qual o vírus pode ser passado pela mãe que amamenta ao seu filho. A pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade de Cambridge e por norte-americanos tem o intuito de diminuir o risco de transmissão por meio de um dispositivo que filtra o leite e cuja proposta fim é inativar o vírus no trajeto entre o bico do seio da mãe e a boca do lactente e, por conseguinte, eliminar o risco desta via de contágio.

Se em alguns países a detecção precoce é a regra e os problemas de desnutrição infantil não são prioridades em se tratando de saúde pública, essa não é a realidade em regiões nas quais o número de infectados cresce de modo mais acelerado, ou seja, os locais mais pobres e com sistemas de saúde precários ou insuficientemente otimizados. A intenção é a utilização de dispositivo que possa evitar a transmissão e propiciar a continuidade da amamentação. O dispositivo possui em seu interior uma camada de lã de algodão embebida em uma substância química. Está é a idéia. Simples como todas as grandes invenções. Se é eficaz só as pesquisas e o tempo dirão...

A desnutrição e a mortalidade nessa faixa etária podem ser minimizadas por meio da manutenção do aleitamento, uma vez que o leite materno é único e ideal para a criança, provendo água, minerais e alimentação na proporção correta além de substâncias imunológicas que protegem o organismo do bebê contra infecções.

Apesar da provável estigmatização -- o dispositivo é visível --, por meio do reconhecimento de mães portadoras do vírus da AIDS pelas pessoas ao redor, a idéia é positiva, dentro de um contexto mais amplo de prevenção e atenção primária à saúde. Uma vez submetido a todas as etapas de testes necessários para a validação e a aplicabilidade em larga escala, o método poderá se tornar mais uma ferramenta de resistência da espécie humana contra um inimigo poderoso, que a ciência tem tentado combater há mais de duas décadas.

Carlos Gropen Jr. é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) e consultor de saúde do Correio Braziliense