Camponeses que apóiam o presidente boliviano, Evo Morales, bloqueavam neste sábado (20/09) o acesso ao departamento de Santa Cruz, bastião da oposição, e ameaçavam marchar sobre a capital regional caso os governadores rebeldes não aceitem a proposta de La Paz para um acordo nacional.
"Estamos em San Julián (89Km a nordeste de Santa Cruz) decidindo sobre a marcha. O que nos preocupa é que a mesa de diálogo (em Cochabamba) não funciona, não há resultados", disse à AFP o dirigente Félix Martínez.
O líder camponês destacou que na mesma situação estão vários sindicatos, reunidos em Yapacani, Mora, Tiquipaya e Torno, comarcas a leste e a oeste de Santa Cruz.
"Não vamos suspender os bloqueios" de estrada. Há um setor camponês que "está decidido a marchar até o centro de Santa Cruz", mas "será uma mobilização pacífica, contra a discriminação, pela desocupação das repartições públicas e a favor da nova Constituição".
Martínez calculou que em torno dos bloqueios há cerca de 15 mil camponeses, enquanto a imprensa de Santa Cruz fala em 20 mil pessoas, algumas armadas.
O presidente Morales, que participa das discussões em Cochabamba, disse que a concentração dos camponeses "não é um cerco a Santa Cruz", mas sim uma mobilização em defesa do estado de direito.
"O que escutei e que me assusta é que alguns grupos exigem a renúncia do governador de Santa Cruz, algo que não compartilho", destacou o presidente.
Morales negocia em Cochabamba com os governadores rebeldes Rubén Costas (Santa Cruz), Savina Cuéllar (Chuquisaca), Mario Cossío (Tarija) e Ernesto Suárez (Beni) na tentativa de obter um acordo nacional que pacifique a Bolívia.
As discussões giram em torno da redistribuição do imposto arrecadado com o petrólero, das autonomias regionais, da aprovação da nova Constituição e da eleição de autoridades judiciais e eleitorais.
Na véspera, o vice-presidente boliviano, Alvaro García, advertiu que para se chegar a um acordo a oposição precisa reconhecer que na Bolívia existe uma nova "correlação de forças".
"Se conseguirem entender este novo cenário de correlação de forças, teremos uma solução a curto prazo", disse García, destacando que "são as minorias políticas do Congresso e regionais que estão obrigadas a aceitar e reconhecer a maioria política que define o programa nacional de governo".