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Bolívia: com medo da violência, moradores de Pando buscam proteção na cidade de Brasiléia, no Acre (Brasil)

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A rotina de Brasiléia, município no interior do Acre com 14 mil habitantes, mudou. Na praça central nunca se viu tanta gente. Bolivianos opositores ao presidente Evo Morales, buscaram refúgio na pequena cidade. Eles começaram a chegar no sábado em pequenos grupos e ontem passavam de mil. Após a prisão de Leopoldo Fernández, governador do departamento (estado) amazônico de Pando, e da intervenção do Exército na capital Cobija, a única solução encontrada pela oposição foi fugir. A região da fronteira marcou a crise na Bolívia pelos conflitos violentos e o massacre de índios. Agora, os refugiados têm medo de ficar e ter como destino a prisão ou até mesmo a morte. ;Aqui na cidade quem pode dá abrigo. E, graças a Deus, a minha casa é grande;, contou ao Correio Altariza Cavalcante. Oito bolivianos estão abrigados na casa dela. A recepcionista do hospital de Brasiléia prefere não perguntar como foi o conflito, mas sabe que os refugiados são funcionários do governo de Pando. ;Eles disseram que saíram de lá porque estão em uma lista negra. Eles têm certeza de que se voltarem para a Bolívia vão morrer;, disse Altariza. ;Eu me declaro na clandestinidade por temor à minha vida;, afirmou à imprensa Ana Melena, presidenta do Comitê Cívico de Pando, hospedada em um hotel de Brasiléia. Juan Quete, diretor do Aeroporto de Cobija, contou que as ameaças aos refugiados partem do governo de Morales e dos camponeses. Os que não conseguiram ficar na casa de amigos ou em hotéis se reúnem na praça central. De lá eles são levados a um abrigo improvisado pelo governo do Acre, onde recebem alimentação, roupas e tratamento médico. Uma operação foi montada para receber os visitantes, incluindo o reforço do quadro médico e a presença de policiais na fronteira. Em uma esquina perto dali, o Consulado da Bolívia em Brasiléia é pouco procurado. Por telefone, o cônsul José Luiz Mendez Chaurara revelou à reportagem que a maioria dos bolivianos busca apenas informações sobre viagens a outros estados do país. ;Até ontem, eu recebia aqui camponeses que fugiam dos atentados. Agora, o público mudou, são funcionários do governo de Pando em busca de documentos;, afirmou. Trabalhadores rurais A 50m da praça onde se reúnem os refugiados bolivianos, está o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia. O local abriga 30 brasileiros que abandonaram Cobija por temendo a violência. Maria Benedita Abreu da Silva, de 33 anos, veio com a mãe e os três filhos. Ela e o marido eram caseiros de uma fazenda em Porvenir, onde viviam havia 17 anos. ;A gente pisava em cima de sangue como quem pisa em água. Ficamos com medo;, disse. O assessor especial do governo acreano, Carlos Alberto Bernardo, garantiu que há estrutura para atender mais refugiados. ;Temos uma excelente relação de amizade com os bolivianos, não acho que teremos problemas. E a solidariedade do povo de Brasiléia também ajuda.;