LA PAZ - O governo boliviano do presidente Evo Morales e a oposição começarão a negociar na quinta-feira as condições para um pacto pela paz e a reconciliação nacional, depois de três semanas de confrontos que deixaram 18 mortos e um país dividido, à beira da guerra civil. As discussões terão como mediadores e testemunhas do diálogo a União de Nações Sul-americanas (Unasul), a Igreja Católica, a União Européia e a ONU.
O entendimento prevê o início das negociações na cidade de Cochabamba e estabelece, entre outras medidas, a devolução ao Estado de prédios públicos tomados pelos opositores, o restabelecimento da paz e uma investigação imparcial do massacre de 16 camponeses em Pando semana passada, anunciou o governo.
Depois de cinco dias de discussões tensas, os dois lados aprovaram um acordo que serve de base para acabar com a crise política. O acordo foi assinado na madrugada de terça-feira pelo governo, mas a oposição só firmou o mesmo à noite, poucas horas depois do prefeito (governador) da região de Tarija, Mario Cossío, ter afirmado: "O diálogo não morreu, mas está em agonia".
O próprio Cossío assinou o acordo em representação aos colegas de Santa Cruz, Beni, Pando e Chuquisaca, abrindo a possibilidade de uma distensão depois de três semanas de violência. "Que seja o início de um grande acordo nacional para dar paz e tranqüilidade a nossa gente", destacou Cossío.
Os prefeitos haviam bloqueado a assinatura do documento em protesto pela detenção e posterior confinamento em Cochabamba do prefeito de Pando, Leopoldo Fernández, a quem o governo responsabiliza pelo massacre de 16 camponeses leais ao presidente Morales.
Após a prisão de Fernández, muitos moradores de Cobija, capital de Pando, cruzaram a fronteira com o Brasil para se refugiar na cidade de Brasiléia, Acre, de eventuais represálias do governo. Enquanto o diálogo estiver em curso, o governo deve deixar em suspenso o referendo sobre uma nova Constituição - previsto para janeiro de 2009 -, uma demanda central de cinco das nove regiões que não aceitam o texto, que consideram excessivamente indigenista.
Além do grave conflito interno, a Bolívia recebeu a notícia de que os Estados Unidos a incluíram na lista de países que não cumprem as obrigações de luta contra o narcotráfico. Também recomendou aos americanos que vivem nesta nação que abandonem o território em conseqüência da insegurança.
O vice-presidente Alvaro García respondeu que "a Bolívia cumpriu de maneira religiosa os convênios internacionais quanto à redução de plantações de coca, respeitando os direitos humanos". O governo de Morales expulsou no domingo o embaixador dos Estados Unidos em La Paz, Philip Goldberg, diante do que Washington fez o mesmo com o chefe da missão diplomática boliviana.