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Bolívia: Cone Sul tenta reduzir as importações de gás

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Apesar dos conflitos internos, a Bolívia foi o primeiro país a ratificar, na quinta-feira, o tratado constitutivo da União das Nações Sul-americanas (Unasul). O bloco tem como objetivo facilitar a integração física, social e energética do subcontinente. Mas as divisões no país mais pobre da América do Sul e um dos mais ricos do mundo em gás natural põem em dúvida até que ponto a aliança na área de energia entre nações da América do Sul é viável. A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) estima que a América Latina precisará de US$ 1,3 trilhão em novos investimentos no setor energético antes de 2030 para dar conta do aumento da demanda provocado pelo crescimento das principais economias do Cone Sul. Projetos ambiciosos, como o anel energético que levaria o gás peruano a cinco países, ou o Gasoduto do Sul, liderado pela Venezuela, ainda não saíram do papel. O Gasoduto do Sul partiria do território venezuelano, atravessaria o Brasil de norte a sul, até chegar à Argentina, ao Paraguai e Uruguai. A intenção é que ele distribua até 150 milhões de metros cúbicos diários na região. A obra, de 8.000km, custaria US$ 23 bilhões. O sonho de conclusão do Gasoduto do Sul parece tão distante quanto o de uma cooperação energética livre de turbulências político-sociais. Na Argentina, o governo passou por maus momentos no primeiro semestre: a oferta de gás não acompanhou o crescimento da economia. A situação continua preocupante, mas o fim do inverno traz alívio às autoridades. ;É primavera, e o consumo não é tão alto;, disse ao Correio o funcionário da Secretaria de Energia da Argentina, Horacio Mizrahi. ;O impacto da interrupção de envio de gás boliviano é maior para o Brasil, porque nós importamos entre 3 e 4 milhões de m³ dos bolivianos.; Nova central A Argentina produz cerca de 140 milhões de m³ diários de gás e exporta um excedente de 10 milhões para o Chile. Em 2004, com as restrições nas exportações argentinas de gás natural, o Chile planejou uma central de gás natural liquefeito (GNL). A idéia, prevista para 2009, é poder importar o GNL de outros países, regaseificá-lo e, assim, diminuir a dependência econômica da Argentina. ;O Chile produz muito pouco gás natural, e essa produção está no extremo sul do país. A unidade de regaseificação de GNL é para o consumo interno;, disse Carlos Piña, funcionário da Comissão Nacional de Energia (CNE). O ministro de Energia do Chile, Marcelo Tokman, indicou na semana passada que o país considerará a incorporação dos biocombustíveis líquidos e o biogás à matriz energética. Já o Brasil precisa do gás natural sobretudo para as indústrias paulistas e no sul do país, ainda que o produto represente apenas 6% da matriz. A produção nacional está em 58 milhões de m³ e a Petrobras anunciou para setembro de 2009 mais um gasoduto com capacidade de levar ao mercado amazônico cerca de 5,5 milhões de m³ por dia. Outro que quer reduzir a dependência de gás dos vizinhos é o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, que anunciou nesta semana a preparação de um plano de política energética para o período 2008-2030. O projeto prevê uma unidade regaseificadora de GNL e o estudo de fontes não-renováveis, com campanhas prospectivas de petróleo, gás e urânio.