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Evo Morales acredita em sua nova Constituição para 'refundar' o país

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A Bolívia se aproxima de uma encruzilhada. O país se divide em diferentes visões de Estado e de governo e terá de escolher um caminho. Por um lado, o presidente Evo Morales tenta ;refundar; o país mais pobre da América do Sul com um projeto de nova Constituição e maior controle sobre a distribuição das receitas obtidas com gás e petróleo. Por outro, os governadores de cinco departamentos (Tarija, Beni, Pando, Santa Cruz e Chuquisaca) reivindicam maior autonomia política e econômica na Bolívia de hoje ; um Estado centralista e unitário. ;Quando as Forças Armadas não obedecem (à oposição) para um golpe militar, eles buscam um golpe civil contra o Estado;, acusou Morales na sexta-feira. O presidente se referia aos bloqueios de estradas organizados pelos governadores como forma de protesto. A nova Constituição apresenta mudanças drásticas quanto à definição de Estado boliviano. Na atual Carta, o primeiro artigo diz que a Bolívia é ;livre, independente, soberana, multiétnica e pluricultural, constituída em República Unitária; e adota para seu governo a forma democrática representativa e participativa. Na proposta de Morales, o primeiro artigo define um ;Estado unitário social de direito plurinacional, comunitário, livre, independente, soberano, democrático, intercultural, descentralizado e com autonomias;. ;O que está em debate profundo são dois modelos econômicos: entre os neoliberais, que com esse tipo de violência querem retornar ao governo, e o povo, que apóia o processo de mudança;, argumenta Morales. Outras propostas surgem como solução para antagonismos acirrados. A Cruzada Nacional da Bolívia, dirigida por Rafael Julio Quiroga, propõe que o país imite o modelo federal de vizinhos como Brasil, Argentina e Venezuela. ;O federalismo é a única via para acabar com a autonomia que buscam os departamentos da ;meia-lua; e as quatro diversas autonomias que o governo propõe no projeto da nova Constituição Política do Estado;, diz Quiroga. Já o representante da Nação Camba, Angel Sandoval, defende um Estado binacional: ;Esta proposta impedirá uma guerra civil, porque é uma alternativa para resolver a crise;. Segundo ele, com essa fórmula seriam respeitadas as vontades dos povos andinos e dos povos chaco-amazônicos, divididos em departamentos que votaram ;sim; e ;não; no plebiscito sobre as autonomias. Risco de secessão Uma terceira possibilidade seria a divisão do país em dois. O boliviano Jorge Ordenes opina, no exaltado artigo Até a repartição da Bolívia, que a secessão ;é uma possibilidade cada vez maior impulsionada por Evo Morales, que busca fazer uma república independente do ocidente do país e culpar o norte, o oriente, o sul, o neoliberalismo e talvez a Igreja Católica;. O ex-presidente da Colômbia Ernesto Samper discorda. Em entrevista ao jornal boliviano La Razón, disse que ;é preciso conduzir isso com muito talento e tolerância, pois não acho que (a secessão) seja o projeto do presidente Morales;. Os vizinhos assistem ao desenrolar dos acontecimentos com preocupação. Com o bloqueio de estradas e invasão de instituições públicas pelos opositores, Argentina e Brasil correm o risco de ficar sem o fornecimento de gás boliviano. Nesse contexto, as instalações da Petrobras no país também podem ser alvo de ameaças. ;Não creio que isso se materialize, porque seria um tiro no pé, seria tentar obter resultados por meios equivocados;, disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. ;Temos de acompanhar o tema com atenção, mas sem alarme;, concluiu. O governo brasileiro tem apostado no diálogo entre as partes no país vizinho, e formou com Colômbia e Argentina o grupo de amigos da Bolívia, disposto a mediar conflitos.