As autoridades eleitorais de Angola estenderam a votação por mais um dia neste sábado (6/09), em Luanda, afirmando que os problemas que atingiram a primeira eleição no país em 16 anos estão confinados à capital. O principal partido de oposição neste país abalado pela guerra civil, o antigo grupo rebelde União Nacional para a Independência Total de Angola, afirma, no entanto, que os problemas são bem mais amplos e quer que toda a eleição seja refeita.
Uma das mais longas guerras civis da África foi ampliada pela retomada da luta depois das últimas eleições em 1992, quando este partido rejeitou os resultados que apontavam para sua derrota. Alguns locais de votação ficaram abertos toda a noite de sexta-feira para acomodar os eleitores em Luanda que passaram horas na fila por causa de problemas como falta de votos e de fiscais eleitorais.
Os angolanos estão escolhendo representantes para os 220 assentos do Parlamento. Os resultados devem ser anunciados na próxima semana e acredita-se que o partido do presidente José Eduardo dos Santos manterá o controle da assembléia, que tem poucos poderes em comparação com o presidente. As eleições presidenciais devem ser realizadas no próximo ano.
Petróleo
O país do Sul da África com 16 milhões de pessoas, metade das quais registrada para votar, é rico em diamante e petróleo. Angola, mais novo membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), superou a Arábia Saudita este ano como principal fonte de petróleo para a China.
Mas apenas uma parcela reduzida dos recursos chegou aos muitos pobres de Angola e a dilapidada infra-estrutura do país dificulta a realização das eleições. "À parte a situação em Luanda, acreditamos que o processo tenha ido em geral bem", disse o presidente da comissão eleitoral, Caetano de Sousa. Ele rejeitou as acusações da oposição de que, entre outras coisas, o risco de fraude aumentou com a votação noturna e que as eleições devem ser realizadas novamente. "Repetir o processo exigiria a emissão de mais cédulas eleitorais e o recomeçar toda a operação o que é humanamente impossível", disse Sousa.
Luisa Morgantini, chefe da missão de observadores da União Européia (UE), disse que os problemas na sexta-feira incluíram a falta de cédulas e de tinta usada para marcar os dedos dos eleitores para evitar votos múltiplos.
O ex-marxista Movimento Popular de Libertação de Angola, partido de Dos Santos, é acusado de corrupção por grupos internacionais de direitos humanos. Em sua campanha, prometeu continuar transformando o país destruído pela guerra civil.
A produção de petróleo deve superar 2 milhões de barris por dia no próximo ano e crescer 90% em relação aos níveis de 2005 até 2010, de acordo com estimativas conservadoras do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo o FMI, isso deve dobrar as receitas do governo, mesmo se o preço do petróleo cair. A Chevron produz pouco mais de 500 mil barris por dia em Angola e planeja dobrar a produção nos próximos cinco anos.
Guerra civil
O principal partido de oposição exortou os angolanos pobres a votarem por mudança. Mas o partido está ligado nas mentes de muitos angolanos aos horrores da guerra. As pessoas no país, que tem duas vezes o tamanho do Texas, lutam pela sobrevivência, o que inclui evitar as 8 milhões de minas terrestres deixadas pela guerra. A explosão destas minas ainda mata ou fere 300 pessoas por ano.
A luta começou para obter a independência de Portugal em 1975 e terminou em 2002, quando o Exército matou o líder rebelde Jonas Savimbi. Em 1992, Dos Santos derrotou Savimbi no primeiro turno da eleição presidencial, mas Savimbi se recusou a aceitar a derrota e retomou a guerra antes que o segundo turno fosse realizado.