TBILISI - A Geórgia classificou de "espetáculo" a saída nesta terça-feira (19/08) de uma coluna de veículos militares russos dos arredores da cidade de Gori, que supostamente daria início à retirada russa do território georgiano, enquanto os militares russos acusam Tbilisi de não ter mandado suas forças de volta para os quartéis como estava previsto no acordo de cessar-fogo entre os dois países. "Foi um espetáculo destinado a criar uma ilusão de retirada", declarou o porta-voz do ministério georgiano do Interior, Shota Utiashvili. "Nenhum tanque, nenhum soldado russo abandonou a Geórgia", afirmou.
A retirada russa prometida pelo Kremlin é alvo de controvérsias entre Moscou e Tbilisi. Diante das câmeras de tv, um militar russo deu ordem a uma coluna de sete blindados, três tanques e dois caminhões militares do 58º batalhão do exército, formado por 120 soldados, para iniciar a retirada. Mas Shota Utiashvili insistiu que não ocorreram movimentações significativas de tropas na madrugada de segunda-feira para terça-feira, e que os russos permaneciam em suas posições.
O general Anatoli Nogovitsin, chefe adjunto do Estado-Maior do exército russo, por sua vez, também acusou a Geórgia de não fazer suas forças voltar aos quartéis de origem. "Apesar de (o presidente georgiano Mikhail) Saakashvili ter assinado o plano de paz de seis pontos e aceitado a volta das tropas georgianas a seus pontos de acantonamento permanentes, esta condição não foi cumprida". "A atitude da Geórgia complica seriamente a situação e prejudica a retirada das forças russas", acrescentou o militar.
Apesar de toda essa controvérsia, a Rússia e a Geórgia trocaram prisioneiros nesta terça-feira em Igoieti, cidade que fica a 30 km de Tbilisi, a capital georgiana. Houve a troca de 13 georgianos - dois deles aparentemente feridos - por cinco russos, em um posto militar na estrada que vai de Tbilisi à estratégica cidade de Gori. Os georgianos foram levados para o local em dois helicópteros russos.
O secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, por sua vez, também acusou a Rússia de não cumprir com o acordo de paz alcançado com a Geórgia e afirmou que sua organização já não poderá continuar trabalhando com a Moscou como vinha fazendo até agora e pediu a imediata retirada das tropas russas do território georgiano. Os ministros das Relações Exteriores dos 26 países membros da Otan se reuniram nesta terça-feira em Bruxelas para reafirmar seu apoio à Geórgia, frente à Rússia, apesar de isso poder alterar suas relações com Moscou.
Os países da Otan estão de acordo para "endurecer o tom" frente à Rússia, que "não respeitou" até agora seu compromisso de retirar suas tropas da Geórgia, declarou nesta terça-feira em Bruxelas um diplomata francês. "Um acordo está sendo preparado para um endurecimento do tom em relação à Rússia, em especial depois do desrespeito à data limite de ontem para a retirada (das tropas da Geórgia), o que criou evidentemente um consenso", declarou esse diplomata aos jornalistas.
Enquanto isso, o presidente Saakashvili autorizou nesta terça-feira o envio de 20 observadores militares da OSCE a seu país, conforme informou o ministro finlandês das Relações Exteriores, Alexander Stubb, cujo país preside a organização de segurança pan-européia. A OSCE igualmente recebeu o consentimento da Rússia para o envio imediato desses observadores militares.
Numa primeira rodada de discussões na segunda-feira, a OSCE decidiu se enviava ou não mais 100 observadores à Geórgia, como havia anunciado domingo a presidência finlandesa dessa organização, o que não foi acertado. O papel desses observadores será "controlar o cumprimento do cessar-fogo na forma que foi decidido", havia afirmado Alexander Stubb, ministro finlandês das Relações Exteriores. Inúmeros países da OSCE, que tem 56 membros na Europa, América do Norte e Ásia Central, ofereceram apoio para enviar observadores, entre eles Suécia, Dinamarca e Finlândia.