O presidente russo, Dmitri Medvedev, prometeu neste domingo (17/08) retirar a partir de segunda-feira suas tropas da Geórgia, que acusa Moscou de "consolidar" suas posições em seu território.
O anúncio da retirada, feito em Moscou e em Paris, praticamente coincidiu com a chegada a Tbilisi da chanceler alemã, Angela Merkel.
"O presidente Medvedev anunciou ao presidente da República (francesa, Nicolas Sarkozy) que a retirada das tropas russas começará amanhã (segunda-feira) durante a tarde", segundo um comunicado do Eliseu, sede da presidência francesa, confirmado pelo Kremlin.
Sarkozy também advertiu Medvedev para "graves conseqüências nas relações entre Rússia e União Européia" se Moscou não respeitar o acordo de cessar-fogo negociado pelo presidente francês, que prevê a retirada das forças russas da Geórgia.
A Rússia não está cumprindo com seus compromissos, denunciou neste domingo a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice."Existe um cessar-fogo, e a Rússia não está honrando os compromissos assumidos", declarou Rice à rede de televisão Fox.
Mais cedo, o general russo Viatcheslav Borissov, encarregado do perímetro em torno da cidade georgiana de Gori, perto da Ossétia do Sul e localizada em um eixo estratégico que liga o leste ao oeste da Geórgia, havia afirmado à AFP que suas tropas estavam começando a se retirar para serem substituídas por "forças de manutenção da paz" russas.
A polícia georgiana continuava neste domingo a ser proibida de entrar em Gori, e as forças russas ainda estavam posicionadas nesta cidade, constatou um jornalista da AFP.
O secretário do Conselho de segurança da Geórgia, Alexander Lomaya, foi visto pela AFP em conversa animada com o general Borissov. Lomaya afirmou que o Exército russo continuava neste domingo a "consolidar" suas posições.
Ao acompanhar jornalistas em Gori, o general Borissov garantiu que as coisas estavam transcorrendo "em acordo com o plano" de cessar-fogo assinado por Medvedev e seu colega georgiano, Mikhail Saakashvili.
Os soldados russos estabeleceram neste domingo postos de controle com blindados em quatro pontos da estrada que liga Gori à aldeia de Igoieti, depois de terem se retirado brevemente desta localidade a 30 km de Tbilisi, constatou um jornalista da AFP.
Cerca de 50 blindados russos também tomaram posição na entrada de Gori."Estamos aqui para proteger a população e acabar com as pilhagens", alegou um soldado russo.
Militares russos também estavam na base georgiana de Teklati, perto de Senaki, no oeste do país, e tanques patrulhavam a estrada que leva ao porto de Poti, no Mar Negro, 30 km mais a oeste, constatou um jornalista da AFP.
A ajuda humanitária continuava chegando aos poucos neste domingo na região de Gori. "Não estamos conseguindo entregá-la. Precisamos de uma indicação clara de que nossos funcionários poderão se deslocar sem problemas, e os russos ainda não nos forneceram essa indicação", declarou à AFP o coordenador da ONU na Geórgia, Robert Watkins.
O Papa Bento XVI pediu a abertura de "corredores humanitários" na Ossétia do Sul e na Geórgia.
A chanceler alemã, Angela Merkel, que defendeu firmemente a integridade territorial da Geórgia diante de Dmitri Medvedev sexta-feira em Sotchi (sul da Rússia), chegou neste domingo a Tbilisi, onde devia se encontrar com Saakashvili.
Ela garantiu que a Geórgia "vai integrar a Otan". "A Geórgia vai integrar a Otan, se é isso que ela quer, e é isso que ela quer", declarou Merkel à imprensa pouco antes de sua reunião com o presidente georgiano.
As forças russas de "manutenção da paz" devem voltar às posições na Ossétia do Sul que ocupavam antes do início do conflito, em 7 de agosto, e terão o direito de patrulhar alguns quilômetros dentro do território georgiano até a instalação de um "mecanismo internacional" de vigilância.
O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, considerou em entrevista ao Journal du Dimanche "muito preocupante" a ausência de retirada das tropas russas da Geórgia. Ele também expressou o desejo de que uma força internacional seja enviada à região "o mais rápido possível".
O secretário-geral da Organização para a Segurança e a Cooperação da Europa (OSCE), Marc Perrin de Brichambaut, considerou em Vladikavkaz, na Rússia, que os separatistas da Ossétia do Sul "terão que ser consultados sobre seu futuro", e destacou a necessidade de levar em conta "as realidades geográficas e históricas" da região.
Apoiada por Washington, a Geórgia se recusa a negociar o estatuto dos territórios separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia.