TÓQUIO - O primeiro-ministro do Japão, Yasuo Fukuda, expressou nesta sexta-feira (15/08) seu remorso pelos sofrimentos provocados por seu país aos vizinhos durante a Segunda Guerra Mundial, coincidindo com o aniversário da rendição japonesa. Fukuda, conhecido por suas posições moderadas no plano diplomático, participou de uma cerimônia para lembrar a capitulação japonesa em 1945, ao lado do imperador Akihito.
"A Nação infligiu danos importantes e sofrimento a numerosos países, em particular aos povos dos países asiáticos", declarou Fukuda. "Expresso aqui, em nome da Nação, o profundo remorso e minhas sinceras condolências a todas as vítimas". Desejoso de melhorar as relações com seus vizinhos, Fukuda não visitou nesta sexta-feira o polêmico santuário de Yasukuni, ao contrário de seus dois predecessores, Junichiro Koizumi e Shinzo Abe.
Koizumi (2001-2006) costumava irritar os vizinhos do Japão, principalmente chineses e coreanos, com suas visitas ao santuário, venerado por nacionalistas. Os ressentimentos pelos sofrimentos provoados há seis décadas pelo império japonês continuam vivos no sudeste asiático. Essas paixões geralmente provocam atritos diplomáticos, particularmente com a Coréia - colonizada pelo Japão durante a primeira metade do século XX - e com a China, que teve amplas zonas invadidas pelas tropas imperiais desde o fim dos anos 30 até 1945.
Uma minicrise diplomática explodiu no início do verão (boreal) entre Tóquio e Seul a propósito da soberania de um arquipélago situado entre os dois países, ocupado pelos coreanos e reivindicado pelos japoneses. O presidente sul-coreano Lee Myung-Bak pediu então ao Japão para "encarar a história e evitar o imprudente erro de repetir o passado".
Fukuda deu prioridade a reparar os vínculos com a China e a Coréia do Sul, apesar de não impedir que três de seus ministros visitassem Yasukuni. "Orei para que as almas de quem ofereceu sua vida ao país descansem em paz", afirmou um deles, o ministro da Agricultura Seiichi Ota. Também estiveram no santuário os ministros da Justiça e da Segurança Alimentar, assim como vários parlamentares.
O imperador Hirohíto, que era considerado uma divindida viva e nunca falou ao público, anunciou por rádio, em 15 de agosto de 1945, a rendição do Japão, alegando que o país país devia "suportar o insuportável", com suas cidades devastadas pelos bombardeios americanos e duas delas - Hiroshima e Nagasaki - apagadas do mapa por ataques nucleares. Muitos veteranos de guerra e ativistas de direita se reúnem no templo todos os anos no dia do aniversário da rendição, que coincide com a tradicional cerimônia de homenagem aos ancestrais.
Mas alguns decidiram deixar de visitar o templo depois de ver o filme "Yasukuni", do diretor chinês Li Ying, que primeiro foi censurado no Japão, mas acabou chegando às telas em maio passado. A Coréia do Norte também criticou a visita de políticos japoneses ao templo. "As incessantes visitas ao templo Yasukuni no Japão são uma negação total da história japonesa de agressão e crimes e levam ao militarismo, à destruição e à desgraça", afirmou a agência oficial norte-coreana.
O santuário xintoísta de Yasukuni homenageia os 2,5 milhões de japoneses que morreram lutando na Segunda Guerra, entre eles 14 criminosos de guerra condenados à morte pelos aliados depois de 1945. Em 2006, 61º aniversário da capitulação de 1945, Koizumi tornou-se o primeiro chefe de Governo em exercício em 21 anos a visitar Yasukuni no dia 15 de agosto. O sucessor de Koizumi, Shinzo Abe, não visitou o santuário durante seu curto mandato (2006-2007), apesar de suas convicções nacionalistas, com o objetivo de melhorar as relações do país com China e Coréia do Sul. As tensões geradas pela colonização da Coréia pelo Japão durante a primeira metade do século XX e pela invasão de parte da China pelos japoneses nos anos 30 e 40 são ainda uma sombra sobre as relações diplomáticas na região.