Moscou - Os Estados Unidos devem escolher entre seu apoio ao governo da Geórgia ou a "aliança real" com a Rússia, disse nesta quarta-feira (14/08) o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, citado pela agência Interfax.
"Compreendemos que a Geórgia represente um projeto especial para os Estados Unidos e que os Estados Unidos se preocupem com a sorte desse projeto", declarou Lavrov à imprensa russa.
No entanto, "um dia Washington terá que escolher entre o apoio a um projeto virtual e a aliança real sobre questões que necessitam verdadeiramente ações coletivas", acrescentou.
O ministro russo recordou que durante "todos estes anos, a Geórgia foi armada, principalmente pelos Estados Unidos".
A Rússia "preveniu seus pares americanos em numerosas ocasiões de que era um jogo perigoso que poderia desembocar em aventura iniciada pela própria Geórgia", assinalou.
"Nos garantiram sempre que os Estados Unidos mantinham a situação sob controle", disse Lavrov.
Os Estados Unidos se encarregaram desde 2002 da formação do exército georgiano, enviando instrutores militares, além de contribuirem com equipamento militar.
A Casa Branca apoiou, além disso, ativamente, o presidente pró-ocidental Mikhail Saakashvili, desde sua chegada ao poder no final de 2003.
Em contrapartida, a Geórgia ofereceu 2.000 militares para o Iraque, formando, assim, o terceiro contingente estrangeiro em número de tropas. Estes homens regressaram agora à Geórgia em pleno conflito com a Rússia, trasladados por aviões dos Estados Unidos.
Cessar-fogo
O frágil cessar-fogo instaurado entre russos e georgianos pareceu ser respeitado nesta quarta-feira (13/08), apesar dos relatos de violência, êxodo e pilhagens, mas a tensão prosseguia viva, inclusive no âmbito diplomático.
A aplicação do plano de paz aprovado terça-feira por Moscou e Tbilisi parecia incerta. As duas partes interpretavam o acordo de maneira diferente, acusando-se mutuamente de não honrar os compromissos assumidos.
O presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, acusou as forças russas de destruições e pilhagens na cidade de Gori, um lugar estratégico do centro do país.
Um jornalista da AFP viu nesta quarta dezenas de casas em chamas e cenas de desolação na estrada que liga Gori à Ossétia do Sul, em aldeias saqueadas por combatentes ossetas e soldados russos.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, advertiu a Rússia que enfrentará o isolamento se não respeitar o cessar-fogo acertado no conflito com a Geórgia. "Devo dizer que os informes não são animadores sobre o respeito da Rússia do cessar-fogo, da promessa formulada", declarou Rice à imprensa. "Isso servirá apenas para aprofundar o isolamento no qual a Rússia está se movendo", acrescentou Rice, antes de sua viagem à França e à Geórgia, em apoio aos planos promovidos pelo governo francês, visando ao fim do conflito.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou ter recebido de seu colega russo Dmitri Medvedev "a garantia de que a Rússia respeitará os compromissos assumidos" na terça-feira.
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush havia anunciado antes o envio de Rice a Paris, para uma conversa com Sarkozy, e depois a Tbilisi, para manifestar a solidariedade dos Estados Unidos para com a Geórgia. Ele também encarregou o secretário da Defesa, Robert Gates, de encaminhar para a Geórgia ajuda humanitária americana, para o que um primeiro avião militar está a caminho. "Enviei a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, à França para um encontro com o presidente Nicolas Sarkozy", frisou Bush, acrescentando que "ela seguirá depois para Tbilisi onde expressará pessoalmente o apoio inquebrantável dos Estados Unidos ao governo democrático da Geórgia", prosseguiu. "Durante a viagem, ela empreenderá esforços para conseguir a adesão do mundo livre à defesa da Geórgia".
No pronunciamento, Bush pediu que a Rússia respeite a soberania territorial da Geórgia e que as tropas russas se retirem do território georgiano. Preocupados em evitar uma escalada, os 27 chanceleres da UE se disseram dispostos a enviar homens à Geórgia para supervisionar a aplicação do plano de paz. O ministro francês Bernard Kouchner mencionou o envio de "controladores" europeus.
No entanto, divergências foram confirmadas no seio da UE: os líderes de quatro países ex-comunistas pertencentes à União Européia desqualificaram o plano de paz apresentado pelo presidente francês Nicolas Sarkozy para acabar com as hostilidades entre Geórgia e Rússia por considerá-lo incompleto.
"No documento apresentado ontem à noite (terça-feira), tanto em Moscou como em Tbilisi, falta o principal elemento, o respeito à integridade territorial da Geórgia", afirmaram os presidentes de Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia, em declaração conjunta, ao final de uma visita a Tbilisi. E reiteraram seu "pleno apoio à integridade territorial da Geórgia dentro de suas fronteiras reconhecidas internacionalmente".
Anteriormente, na Geórgia, o presidente polonês Lech Kaczynski criticou abertamente o plano de Sarkozy, presidente em exercício da União Européia (UE): os seis pontos pedem basicamente a ambos os países o cessar de hostilidades e o retorno a posições anteriores aos combates.