Jornal Correio Braziliense

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Obama pede a uma 'nova geração' enfrentar os desafios do planeta

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BERLIM - O candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, fez um apelo nesta quinta-feira (24/07) à união de "uma nova geração" de europeus e de americanos, para pôr abaixo os muros entre aliados, entre raças e religiões e enfrentarem, em conjunto, os desafios do planeta. "Povo de Berlim, povos do mundo, chegou a nossa hora", declarou o senador a multidão entusiasta, estimada em 200 mil, aglomerada aos pés da Coluna da Vitória, no centro da cidade. "Uma nova geração, nossa geração, deve deixar sua marca na história. Face ao terrorismo, ao aquecimento climático, à droga, à proliferação nuclear, não podemos nos permitir estarmos divididos." "O século XXI está aberto a um mundo mais interdependente como jamais se viu na história humana. Mas essa aproximação acarretou novos perigos que não podem mais ser represados por fronteiras ou oceanos", prosseguiu. "Nenhuma nação, tão grande e tão poderosa que seja, pode enfrentar sozinha os desafios", observou Obama, num discurso sem precedentes de um candidato à presidência dos Estados Unidos. "A America não tem melhor aliado que a Europa", afirmou o candidato democrata. Mas "um verdadeira parceria exige um trabalho constante e sacrifícios... aliados que sabem ouvir, aprender uns com os outros e, sobretudo, a ter confiança". Obama pediu aos europeus prosseguirem seu compromisso no Afeganistão. "Pelo povo do Afeganistão, e por nossa segurança comum, é preciso terminar o trabalho", disse. "A América não pode fazer sozinha. O povo afegão precisa de nossas tropas e das de vocês; de nosso apoio e do de vocês para vencer os talibãs e a Al-Qaeda, para desenvolver sua economia e para ajudar a reconstruir seu país. O que está em jogo é muito importante para renunciarmos agora", insistiu. Evocando a queda do Muro de Berlim em 1989, pediu para que sejam derrubados outros muros. "Os muros entre os aliados de longa data, de uma parte e de outra do Atlântico, não podem ficar de pé. Os muros entre os países mais ricos e os mais pobres não podem ficar de pé. Os muros entre as raças e as tribos, entre indígenas e imigrantes, entre cristãos, muçulmanos e judeus não podem ficar de pé". Após o discurso, interrompido por aplausos e gritos "Yes we can" ("sim, nós podemos"), seu slogan de campanha, Obama misturou-se durante cinco minutos à multidão, que corria para apertar-lhe a mão e fotografá-lo. O candidato democrata, que está com um leve avanço em relação ao adversário que reprova nele a falta de experiência, aproveitou o cenário de uma das cidades mais conhecidas pelos americanos para o discurso, voltado para provar que ele tem porte, sim, para exercer a presidêencia. "Povos do mundo, olhem Berlim, onde um Muro foi derrubado, um continente foi reunificado; a História mostrou que nenhum desafio é grande o bastante quando o mundo se une". Mais de 200 mil pessoas se apertavam para ouvi-lo, ultrapassando de longe o recorde de afluência de 75 mil pessoas durante um comício no Oregon. O senador democrata, que chegou pela manhã, encontrou-se com a chanceler conservadora Angela Merkel, depois com o ministro das Relações Exteriores Frank-Walter Steinmeier. Barack Obama, que já viajou a Kuwait, Iraque, Afeganistão, Jordânia e Israel, deixa Berlim amanhã de manhã em direção a Paris. Ele concluirá em Londres a turnê internacional. A multidão reunida entre a Coluna de Vitória e o Portão de Brandebourg testemunhava o fascínio da Alemanha pelo "John Kennedy negro", título de uma biografia em alemão, num momento em que a imagem dos Estados Unidos se degrada mais que nunca desde a invasão do Iraque em 2003. Segundo pesquisa TNS, 76% dos alemães desejam a vitória do jovem senador, contra apenas 10% que prefeririam a do candidato republicano John McCain.