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Ingrid Betancourt está feliz e emocionada de respirar o ar da França

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PARIS - Ingrid Betancourt chegou nesta sexta-feira (04/07) com os filhos à França, onde foi recebida pelo presidente Nicolas Sarkozy. "Sonho há sete anos em viver este momento. É um momento muito, muito emocionante para mim: respirar o ar da França, estar com vocês", declarou Ingrid Betancourt, muito emocionada, em sua primeira declaração em solo francês. Sorridente, vestida com um terninho azul marinho, ela foi a primeira a sair do Airbus presidencial que chegou no meio da tarde ao aeroporto militar de Villacoublay, a oeste de Paris, proveniente de Bogotá. Depois de descer a escada, ela cumprimentou Nicolas Sarkozy e abraçou a primeira-dama Carla Bruni, antes de trocar algumas palavras em particular com eles."Querida Ingrid, esperávamos por isso há muito tempo", declarou Sarkozy durante uma breve cerimônia na pista, sob um sol de verão. "Toda a França está feliz, toda a França está impressionada pela maneira como você volta, com esse sorriso, com essa força, toda a França admira sua dignidade", acrescentou o presidente francês à ex-refém franco-colombiana. "Bem-vinda, a França te ama", concluiu Sarkozy. Ingrid Betancourt deu a mão a Nicolas Sarkozy e o homenageou. "Vejo este homem extraordinário que tanto lutou por mim e também vejo através dele toda a França". "Devo tudo à França", assegurou, agradecendo também a "Deus e aos céus". "Chorei muito de dor e indignação. Hoje choro de alegria", disse ainda, com a voz embargada, sob aplausos. Ela também considerou que "a estratégia" adotada para a sua libertação foi "fruto da reflexão comum" da Colômbia e da França e negou que tenha sido uma encenação. Betancourt solicitou ainda ao presidente francês que sejam oferecidas bolsas de estudo na França para os jovens reféns libertados e para os que ainda estão em poder das Farc. "Passei sete anos de minha vida com seres humanos sem esperança, falo de soldados e policiais seqüestrados comigo. O mais jovem tinha 18 anos quando foi capturado", relatou. "Quando conversava com eles, sempre tinham essa sensação de derrota diante da vida, de terem perdido tantas oportunidades , viam que outros tinham ido para universidade ou terminavam seus estudos", detalhou. "Eu falava da França, que é a alegria, a fraternidade, palavras que parecem banais, mas que para nós tinham, na selva, tanta força, tanto significado", explicou a ex-refém. "Queria que deixassem de ficar deprimidos e de pensar em se suicidar" acrescentou. "Sonho com que esses companheiros que ficaram na selva, possam conhecer a França, viver aqui para que possam amá-la como eu a amo", afirmou. Betancourt chegou com seus filhos, Mélanie, 22 anos, e Lorenzo, 19 anos, seu ex-marido Fabrice Delloye, e com sua irmã Astrid, que haviam viajado para a Colômbia com o ministro das Relações Exteriores Bernard Kouchner. Mais tarde, durante uma recepção com um ambiente muito descontraído no Palácio do Eliseu, para a qual foram convidados vários comitês de apoio, Sarkozy prometeu a Ingrid Betancourt que continuará o "combate" pelos reféns que ainda estão em poder das Farc. "Conto com nosso presidente Sarkozy para que vá à Colômbia novamente", declarou Betancourt. No sábado, a ex-refém das Farc, de 46 anos, deve ser submetida a exames médicos no hospital militar de Val-de-Grâce em Paris, para que se tenha uma idéia exata das conseqüências físicas dos seis anos e quatro meses de cativeiro na selva colombiana nas mãos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. O chefe da equipe médica do Eliseu, que estava junto com a delegação, já examinou-a e concluiu que seu "estado de saúde é satisfatório". "Fiquei acorrentada todo o tempo, 24 horas por dia, durante três anos", contou. Ela também declarou ter sido freqüentemente vítima de "maus-tratos", acrescentando que sua "espiritualidade" a salvou. Ingrid Betancourt, que rezou por diversas vezes depois de sua libertação, afirmou que quer se encontrar com o papa Bento XVI na próxima semana. O Vaticano indicou que a data do encontro ainda não foi estipulada. Ingrid Betancourt adquiriu a nacionalidade francesa ao se casar com Fabrice Delloye, pai de seus dois filhos, do qual ela se divorciou depois. Ela passou parte de sua infância em Paris onde seu pai, diplomata, estava destacado, e estudou na cidade. Ela foi libertada na quarta-feira pelo Exército colombiano com outros 14 reféns, três norte-americanos e onze militares e policiais colombianos. De acordo com a rádio Suisse Romande (RSS), membros das Farc teriam recebido 20 milhões de dólares para trair seu companheiros e preparar essa operação.