CARACAS - O presidente venezuelano Hugo Chávez, que conseguiu a libertação de seis reféns das Farc este ano, ficou totalmente à parte do resgate da seqüestrada mais valiosa da guerrilha, Ingrid Betancourt, numa operação exclusivamente atribuída ao exército colombiano. O governo venezuelano divulgou apenas um comunicado comemorando a libertação de 15 reféns pelas Farc, e pediu à guerrilha que entregue todos os seqüestrados que ainda mantém em seu poder.
O governo do presidente Hugo Chávez "se soma ao júbilo pelo feliz acontecimento da liberação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, 11 cidadãos colombianos e três cidadãos americanos que sofreram na própria carne as angústias da selva e a dureza do cativeiro", afirma comunicado oficial. "Nosso governo reitera a solicitação pública às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia para que liberem os seqüestrados que ainda mantêm em seu poder", continua o texto.
Segundo a rede de televisão estatal VTV, Chávez ligou para o presidente colombiano, Alvaro Uribe, felicitando-o pela libertação dos reféns. Apesar disso, Chávez ainda não se expressou publicamente sobre a questão. Em junho, meses depois de defender o estatuto de beligerantes para as Farc, Chávez voltou atrás em sua posição e pediu à guerrilha que libertasse os reféns sem nada em troca e considerou que a luta armada nào tinha cabimento na América Latina de hoje.
Entre agosto e novembro de 2007, o presidente venezuelano atuou cojmo mediador, com aprovação do colega colombiano, para obter uma troca humanitária entre reféns e guerrilheiros presos. Meses depois, Alvaro Uribe decidiu prescindir de Chávez e isso gerou uma crise nas relações entre os dois países e que dura até hoje. Apesar do mal-estar nas relações bilaterais, Chávez havia se convertido, aos olhos da opinião internacional, numa peça importante para novas libertações.
No entanto, nos últimos meses, Chávez admitiu que perdeu seus contatos com o grupo rebelde depois da morte do número dois, Raúl Reyes, abatido pelo exército colombiano em 1º de março. "Creio que a intermediação de Chávez e do presidente (equatoriano Rafael) Correa foi importante. São aliados importantes neste processo, mas sob uma condição que tem que ser o respeito à democracia colombiana", declarou Betancourt depois de sua libertação.
Nesta quinta, Betancourt voltou a tocar no tema, numa coletiva dada após o encontro com seus filhos provenientes da França. Ela insistiu que os presidentes Chávez e Rafael Correa (Equador) devem restabelecer vínculos com Bogotá em prol de novas libertações unilaterais da guerrilha. "A primeira coisa que devemos fazer é um pedido ao presidente Chávez e ao presidente Correa para que nos ajudem a restabelecer vínculos de amizade, de fraternidade, de confiança com o presidente (Alvaro) Uribe. Essa é uma etapa essencial para que possamos vislumbrar novas libertações unilaterais", afirmou em declarações após o reencontro com seus filhos num aeroporto de Bogotá.
Betancourt também convidou os outros dirigentes políticos latino-americanos a se envolverem na solução do conflito interno que vive seu país. Ela apelou para a influência que de vários presidente latino-americanos teriam sobre os comandantes das Farc para "que deixem o terrorismo de lado e empreendam o caminho da negociação".