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Resgatada a refém colombiano-francesa Ingrid Betancourt

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A refém da guerrilha colombiana das Farc, Ingrid Betancourt, junto com três americanos e outros 11 seqüestrados, foram libertados nesta quarta-feira (02/07) pelo Exército, informou o Ministro da Defesa colombiano Juan Manuel Santos.

O resgate se produziu numa zona de selva do departamento de Guaviare, no sudoeste da Colômbia, informou Santos.

"Continuaremos trabalhando na libertação dos demais reféns. Apelamos aos atuais chefões das Farc para que libertem os outros e não sacrifiquem seus homens", disse Santos em entrevista à imprensa na sede do ministério da Defesa en Bogotá.

Ingrid Betancourt foi raptada pelo grupo terrorista FARC em 23 de Fevereiro de 2002 enquanto fazia campanha para as eleições presidenciais. Era considerada umas das reféns chaves do grupo.

Ousada e polêmica líder política

Um recente vídeo de Ingrid comoveu o mundo. Na gravação, a ex-senadora apareceu cabisbaixa, aparentemente esgotada e extremamente magra.

Suas múltiplas tentativas de fuga, as longas marchas na selva, as noites que passou acorrentada e os constantes conflitos com seus captores parecem ter acabado psicologicamente com esta mulher corajosa e carismática.

"Eles (os guerrilheiros) me tiraram tudo. Tento ficar silenciosa, falo o mínimo possível para evitar os problemas. Não tenho vontade de nada", escreveu Ingrid, na última carta enviada a sua mãe.

As circunstâncias do seqüestro mostraram muito de sua personalidade: ela chegou a ser advertida pelas autoridades sobre os riscos que corria em meio à ofensiva para retomar a área de distensão, mas disse que havia se comprometido a visitar os moradores de San Vicente del Caguán, sede do diálogo.

Em um vídeo divulgado pelas Farc em julho de 2002 como prova da sobrevivência de Ingrid, ela deu mostras de seu caráter, destacando sua divergência com relação à lei de troca proposta pelos rebeldes, desperdiçando a chance que teve de reivindicar sua liberdade.

Esta posição foi reforçada em outro vídeo divulgado no dia 31 de agosto de 2003 em que expressou concordância com um resgate militar, desde que a decisão fosse tomada pelo presidente Alvaro Uribe e apesar da oposição de sua família.

"Ela é terrivelmente disciplinada, voluntariosa, independente. Quando quer alguma coisa é cabeça-dura, de caráter... Eu a admiro. Ela encara as coisas de frente. Chamou o ex-presidente Ernesto Samper de criminoso, ela é inflexível, amiga da verdade, não se deixa convencer facilmente", desabafou sua mãe, Yolanda Pulecio.

Liliane Estefan, uma amiga de infância, lembra dela como uma mulher inteligente, ambiciosa, intelectual, com um grande poder de persuasão e tendências de esquerda".

"Ela sabe comandar, tem uma personalidade muito forte, dominante. Sempre a vi lutar pelas causas sociais. Desde o colégio ela se interessava pelos problemas do país", comentou à AFP.

Nascida em Bogotá e também com nacionalidade francesa, ela tornou-se cientista política pelo Instituto de Ciências Políticas de Paris.

Decidiu lançar sua candidatura à presidência depois de passar pelo Congresso, onde chegou em 1998 com 160.000 votos, a mais alta votação obtida por um candidato na Colômbia.

No total, 1.112 cidades do mundo a declararam cidadã honorária, e um grupo de deputados franceses propôs sua candidatura ao Prêmio Nobel da Paz. A ex-senadora publicou na França seu livro La rabia en el corazón (A raiva no coração).

Betancourt conta em seu livro as ameaças de morte que ela sofreu com seus filhos adolescentes, Melanie e Lorenzo, a perseguição política do Estado e as vezes que viajou para a Nova Zelândia e para a França para fugir dessas intimidações.

Resgate de Betancourt não deixou feridos

O ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou que comandos do exército colombiano cercaram o local do cativeiro da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), e convenceram os guerrilheiros a entregar os reféns, sem nenhuma perda de vida nem feridos. Segundo o ministro, na operação realizada no leste da Colômbia, também foram libertados três norte-americanos e 11 soldados e policiais colombianos.

O ministro afirmou que guerrilheiros capturados antes do cerco ajudaram a convencer os colegas a entregarem os reféns. Os guerrilheiros foram presos. Ex-senadora, a franco-colombiana Ingrid Betancourt foi seqüestrada pelas Farc em 23 de fevereiro de 2002, enquanto fazia campanha para as eleições presidenciais. Cativa desde então, sua saúde foi apresentando deterioração, de acordo com relatos dos últimos reféns libertados pela guerrilha.

Cronologia do seqüestro de Ingrid Betancourt

- 2002 -

23 de fevereiro: as FARC seqüestram Betancourt, candidata presidencial, e sua coordenadora de campanha, Clara Rojas, perto de San Vicente del Caguán, 740 km ao sudeste de Bogotá.

27 de fevereiro: a guerrilha se oferece por libertar Betancourt em troca de rebeldes presos.

26 de maio: Betancourt obtém 0,5% dos votos nas eleições presidenciais.

23 de julho: as FARC divulgam um vídeo de Betancourt gravado no dia 15 de maio.

7 de agosto: Alvaro Uribe assume a presidência, partidário da linha dura com a guerrilha.

15 de novembro: Uribe revela um plano para enviar rebeldes presos ao exterior, com apoio da França, em troca da libertação de sequestrados.

3 de dezembro: as FARC exigem que sejam desmilitarizados dois departamentos (115.000 km2) para negociar uma troca.

- 2003 -

28 de abril: a guerrilha designa três negociadores.

9 de julho: A França envia um avião a Manaus, na Amazônia brasileira, para uma eventual libertação de Betancourt, numa operação secreta que fracassa.

30 de agosto: Betancourt aparece pela segunda vez num vídeo, gravado em maio.

- 2004 -


2 de dezembro: o presidente colombiano perdoa 23 guerrilheiros para destravar o bloqueio a um acordo humanitário.

3 de dezembro: as FARC pedem a libertade de 500 rebeldes presos em troca de reféns e a desmilitarização de um território de 800 km2 que inclui os povoados de Florida e Pradera.

- 2005 -

13 de dezembro: França, Espanha e Suíça propõem negociar a troca numa pequena propriedade rural no sudeste da Colômbia com observação internacional. Uribe aceita.

- 2006 -

2 de janeiro: as FARC dizem desconhecer a proposta européia e consideram que negociar seria favorecer Uribe, que aspirava a ser reeleito.

29 de maio: Uribe é reeleito para um segundo mandato.

24 de setembro: as FARC divulgam um vídeo de 12 deputados reféns. Um chefe rebelde assegura que Betancourt vive nas mesmas condições que os guerrilheiros.

28 de setembro: Uribe anuncia a disposição de desmilitarizar a Flórida e Pradera.

20 de outubro: o governo suspende as aproximações devido à explosão de um carro-bomba atribuído às FARC numa universidade militar em Bogotá.

31 de dezembro: o ex-ministro Fernando Araújo, um dos reféns das FARC, escapa no meio de uma operação militar ao norte da Colômbia. Em fevereiro é nomeado chanceler.

- 2007 -

30 de janeiro: Uribe diz ante a cúpula da polícia que 2007 será um ano "crucial para resgatar os sequestrados". França e a família de Betancourt se opõem a uma operação militar.

28 de abril: o policial John Frank Pinchao, que partilhava o cativeiro com Betancourt, consegue escapar e conta que ela permanece num acampamento na selva do sudeste da Colômbia.

6 de maio: em seu primeiro discurso após ser eleito presidente da França, Nicolas Sarkozy afirmou que não esquecerá da sorte de Betancourt.

1 de Junho: Uribe começa a liberar mais de 120 guerrilheiros das FARC, entre eles o chamado "chanceler" do grupo, Rodrigo Granda, cuja liberdade foi solicitada por Sarkozy.

28 de Junho: as FARC anunciam que 11 deputados reféns morreram num "fogo cruzado com um grupo militar não identificado". Uribe as acusa de assassinato.

2 de agosto: Uribe se diz disposto a negociar em três meses a paz com as FARC. A guerrilha recusa a oferta.

15 de agosto: Uribe nomeia a senadora opositora Piedad Córdoba como facilitadora para a troca.

17 de agosto: Chávez aceita fazer a mediação entre as FARC e Uribe.

20 de agosto: Chávez recebe em Caracas familiares dos reféns.

29 de agosto: Sarkozy e Chávez dialogam por telefone sobre o caso.

30 de agosto: Sarkozy e Uribe dialogam por telefone sobre o encontro com Chávez em Bogotá.

7 de dezembro: O filho de Ingrid faz apelo para uma rádio da Colômbia pedindo para que a mãe não desista de viver.

20 de dezembro: Os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) exigem a renúncia do presidente Álvaro Uribe em troca da libertação de todos os reféns em poder do grupo.

- 2008 -

10 de janeiro: a guerilha libera Clara Rojas seqüestrada junto com Ingrid Betancourt

27 de fevereiro: um dos três ex-parlamentares libertados pelas Farc, Luis Eladio Pérez Bonilla, denuncia a situação degradante vivida por Betancourt na selva.

29 de março: o presidente colombiano visita a região, onde Ingrid Betancourt estaria, o povoado de San José del Guaviare (400 km ao sudeste de Bogotá), capital do departamento de Guaviare. Nessa mesma data, o padre Manuel Mancera confirmou que cerca de 200 guerrilheiros acompanharam Ingrid Betancourt a um posto médico na zona de Guaviare, na selva colombiana, no mês passado. Ela sofreria de leishmaniose e hepatite.

Na véspera, o defensor público Vólmar Pérez já havia informado que Betancourt havia sido levada a um posto de saúde, na selva, devido ao agravamento de seu estado de saúde.

30 de março: França envia à Guiana um avião com equipe médica para Ingrid Betancourt.

2 de julho: Ingrid Betancourt é libertada pelo Exército colombiano.

Com AFP e Agência Estado