SANTIAGO - O ex-presidente socialista chileno Salvador Allende, derrubado por Augusto Pinochet, foi homenageado nesta quinta-feira (26/06) no Chile pelo centenário de nascimento.
O ato principal foi na Praça da Constituição, em frente ao Palácio presidencial de La Moneda, onde ele teria se suicidado no dia 11 de setembro de 1973, em meio ao levantamento militar comandado pelo falecido general Pinochet.
Salvador Allende passou à história como o primeiro marxista que chegou à presidência de um país latino-americano através de uma eleição popular.
A história de Allende
Médico de profissão, Allende nasceu em 26 de junho de 1908 no porto de Valparaiso, 110 km a oeste de Santiago, e tentou em quatro ocasiões chegar ao governo com o apoio de seu Partido Socialista, o Partido Comunista e outras forças que em 1970 conformaram a União Popular.
Nas eleições de 1952, reuniu uma escassa votação, em 1958 ficou com 28,5% do eleitorado, e em 1964 chegou a 38,6% do eleitorado.
O avanço da esquerda culminou com a vitória de Allende nas eleições de 4 de setembro de 1970, quando recebeu 36,3% dos votos, superando o direitista Jorge Alessandri, que registrou 34,9%, e o democrata-cristão Radomiro Tomic, que ficou com 27,8%.
Desde o momento em que assumiu o cargo, no dia 3 de novembro, a direita e a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) criaram as condições de instabilidade que desembocaram no golpe militar de 11 de setembro de 1973, segundo documentação da época.
Nacionalização
Com um forte apoio popular, Allende conseguiu unanimidade no Parlamento para nacionalizar as grandes minas de cobre - principal recurso chileno - que durante 40 anos foram exploradas por companhias americanas.
Empenhado numa "transição para o socialismo dentro da institucionalidade", seu governo de Unidade Popular criou uma "área social" ou estatal da economia, à qual integrou uma centena de empresas enquanto acelerava uma reforma agrária para entregar terras aos camponeses e fortalecia ou sindicatos operários.
Mas a direita e a democracia cristã rejeitaram no Parlamento a proposta de Allende para consagrar em uma lei as três áreas da economia: estatal, mista e privada.
Ainda que governando com o apoio de socialistas, comunistas, a esquerda cristã e outras correntes, Allende enfrentou a rejeição de organizações de extrema-esquerda, que consideravam inevitável "o enfrentamento" violento com a burguesia.
Crise
A ofensiva contra "a via chilena para o socialismo" piorou em outubro de 1972, quando os empresários do transporte, comerciantes e sindicatos paralisaram o país para derrubar o governo.
Para restabelecer a ordem, Allende convidou para o gabinete representantes do exército, marinha e força aérea, e dois meses depois denuncia na Assembléia-geral das Nações Unidas a "agressão" das companhias multinacionais.
Nas eleições parlamentares de março de 1973, a Unidade Popular aumentou seu apoio e sua força legislativa, ao receber 43,3% dos votações, mas o Senado declarou o governo inconstitucional, o tribunal das contas públicas não reconheceu a legalidade de suas ações e surgiu a ameaça de um golpe.
Quando Allende se preparou para convocar um plebiscito, num discurso que faria no dia 11 de setembro de 1973, o general Augusto Pinochet se levantou em armas junto aos chefes dos outros setores militares e a polícia de carabineiros.
"Colocado numa transição histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo", disse o presidente em sua última mensagem no palácio de La Moneda, onde tentou resistir junto com um punhado de colaboradores.
Ainda não tinha sido apagado o fogo provocado pelo bombardeio aéreo contra a sede do governo quando Salvador Allende se suicidou com um fuzil que um dia Fidel Castro lhe deu de presente, segundo depoimentos de sobreviventes a esse ataque, que faz parte agora da história chilena.