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Brasileira é morta em atentado no Líbano. Entenda a crise do país

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A brasileira Samira Mahmud Mazloum foi morta na terça-feira no Líbano, alvo de uma bala perdida durante confronto entre forças pró-governo e militantes dos partidos xiistas Hezbollah e Amal. Ela morava na cidade de Barelias, no Vale do Bekaa, centro do país. A região concentra cerca de 90 mil brasileiros. Samira estava na varanda de seu apartamento quando o disparo atingiu seu rosto. Ela tinha 42 anos e era natural de Guarulhos (SP). Entenda a crise política no Líbano que já fez centenas de vítimas desde 2005: O Líbano possui um sistema singular de repartição do poder político. O presidente sempre é cristão-maronita. O primeiro-ministro deve ser xiita, e o presidente do Parlamento muçulmano xiita. O Legislativo precisa ser irmamente dividido: metade cristão e metade muçulmano. A partilha dos poderes reflete uma sociedade plural, mas que não consegue viver em paz. A população é 60% islâmica e 40% cristã, sendo que estes últimos compõem a elite e se concentram nas grandes cidades. Em fevereiro de 2005, o ex-primeiro-ministro Rafik Hariri (1992-1998 e 2000-2004) foi morto em um violento atentado a bomba em Beirute. Representante da ala que defende boas relações com o Ocidente, Hariri era mal visto pelos setores políticos que defendiam a permanência de tropas sírias no Líbano. Sua morte, no entanto, deflagrou uma onda de protestos que levou os militares da Síria presentes em território libanês desde a guerra civil (1975-1990) a deixarem o país. Mas a influência síria e iraniana continuou forte no Líbano por meio da atuação política e guerrilheira do movimento Hezbollah. O Hezbollah recebe dinheiro e apoio logístico de Teerã. É partido político e, ao mesmo tempo, milícia. Ganhou força em 2006, quando guerreou com Israel no sul do Líbano depois de realizar uma emboscada a militares israelenses. Após a guerra, o Hezbollah lançou uma ofensiva para conquistar mais poder. Aproveitou-se da instabilidade causada pelo fim do mandato do presidente Émile Lahud, em novembro de 2007. Os desentendimentos nos Parlamento fizeram o país ficar seis meses sem chefe de Estado. Enquanto isso, militantes favoráveis ao governo do primeiro-ministro, Fuad Siniora, e guerrilheiros do Hezbollah se enfrentavam em diversas cidades. A escolha do sucessor de Lahoud, Michel Suleiman, se deu diante de uma série de concessões ao movimento xiita, que continua combatendo militantes pró-Ocidente. E a disputa política que parece não ter fim deixa cada vez mais vítimas, como a brasileira Samira, que dava aulas de biologia no Líbano.