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Argentina enfrenta desabastecimento após 100 dias de conflito agrário

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O fantasma da crise assombra a Argentina após quase 100 dias de lock-out agrário, com falta de alimentos nos supermercados, escassez de gasolina e diesel nos postos e uma queda geral no consumo. Pelo menos 30 estradas estavam parcialmente bloqueadas nesta segunda-feira (16/06), feriado na Argentina, com os produtores agropecuários impedindo a passagem de caminhões com cereais, após a retomada da suspensão das exportações de grãos, no sábado passado. O protesto recrudesceu durante este final de semana, após a polícia de choque desbloquear a Rota 14, chamada de Mercosul, e deter por algumas horas um grupo de 19 manifestantes, incluindo o líder rural Alfredo de Angeli. O novo lock-out agrário deve terminar na quarta-feira, com uma "jornada de luta em todo o país", mas De Angeli advertiu que "se for preciso, ficaremos mais 100 dias nas estradas". Para a mesma quarta-feira, os governistas convocaram um ato na Praça de Maio, diante da Casa Rosada, para apoiar a política econômica da presidente Cristina Kirchner e rejeitar o que consideram uma tentativa de desestabilização. O vice-presidente, Julio Cobos, se afastou hoje da posição dura do governo e defendeu mais diálogo, ao pedir ao Congresso que contribua para uma saída negociada. O chefe de gabinete, Alberto Fernández, lamentou na véspera que o protesto continue e acusou alguns setores da oposição de se aproveitar desse momento crítico para desestabilizar o governo de Cristina Kirchner. Os ruralistas protestam contra a aplicação de impostos móveis sobre as exportações de soja e outros grãos, adotada em 11 de março pelo governo. Fernández negou que as autoridades tenham sido inflexíveis ao negociar com os manifestantes, que receberam a oferta de medidas compensatórias para os pequenos produtores agropecuários.