DUBLIN - A Irlanda votará na quinta-feira um referendo sobre o Tratado de Lisboa e, apesar de para o primeiro-ministro Brian Cowen ser impensável uma derrota do "Sim", uma pesquisa na semana passada colocou pela primeira vez o "Não" na frente, evocando o fantasma da paralisia européia. A pesquisa, publicada pelo jornal The Irish Times, concede ao "Não" 35%, contra 30% para o "Sim". Em meados de maio, o "Sim" ainda mostrava 35% das intenções de voto contra 18% para o "Não", segundo pesquisa do mesmo instituto, o Tns Mrbi.
"A menos que haja uma mudança significativa na opinião pública, a União Européia se afundará na crise", escreveu o The Irish Times. O primeiro-ministro irlandês Brian Cowen, assim como os líderes dos principais partidos políticos, estão preocupados com a participação na votação. "As gerações futuras não nos agradecerão se formos nós a deter a construção de uma União Européia, que é a maior força de paz e prosperidade de nossa história e da história da Europa", afirmou Cowen à imprensa.
No último dia da campanha oficial, Cowen tentou ganhar o voto dos indecisos, que constituem 30% dos três milhões de irlandeses que devem ir às urnas. A Irlanda é o único dos 27 países da União Européia (UE) obrigado, por sua Constituição, a organizar uma votação popular sobre o tema. Os demais optaram por uma aprovação parlamentar e 14 já ratificaram o texto, que deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2009.
Indagados sobre a principal razão que os leva a rejeitar o tratado, os partidários do "Não" citam em primeiro lugar seu desconhecimento do texto. Também levantam diversos receios, como a ameaça de que o tratado altere o regime fiscal, as subvenções agrícolas ou a neutralidade do país. Segundo Cowen, o Tratado de Lisboa é o 'o melhor que há' e não 'existe um plano B'.
Cowen tem o apoio do conjunto de forças representadas na Assembléia, tanto da coalizão de governo como da oposição. Os líderes europeus, por sua vez, cruzam os dedos para que o Tratado de Lisboa seja aprovado nesse referendo, principal fonte de incerteza do processo de ratificação que deve ser concluído em dezembro para permitir que o bloco funcione com maior eficácia a partir de 2009.
O Tratado de Lisboa mantém as inovações do projeto de Constituição para facilitar as decisões em uma UE que passou de 15 a 27 membros desde 2004, mas deixa de fora tudo aquilo que possa assimilá-la um Estado federal.