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Gabinete ministerial sul-coreano renuncia por crise da carne americana

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SEUL - O gabinete sul-coreano, criticado pela decisão de retomar as importações de carne bovina dos Estados Unidos, apesar das preocupações sanitárias, apresentou sua renúncia nesta terça-feira (10/06) ao presidente Lee Myung-Bak, em uma tentativa de resolver a crise que afeta o país. "O primeiro-ministro e o gabinete ministerial apresentaram sua demissão para endossar sua responsabilidade nos recentes acontecimentos", afirmou uma fonte oficial. Assim, o premier Han Seung-Soo e seus ministros assumiram a responsabilidade pela situação. Segundo a agência de notícias Yonhap, que cita fontes ligadas à presidência, Lee Myung-Bak pode aceitar a substituição de quatro ou cinco membros do gabinete do premier Han Seung-Soo. No entanto, o porta-voz da presidência, Lee Dong-Kwan, afirmou que nenhuma decisão foi tomada até o momento. Milhares de manifestantes ocuparam as ruas nas últimas semanas para protestar contra a decisão do governo adotada em abril de retomar as importações de carne bovina americana, sob embargo intermitente desde 2003. Os manifestantes acusam o governo de ignorar os riscos sanitários da carne americana, especialmente os ligados ao Mal da Vaca Louca (encefalopatia espongiforme bovina). Em alguns casos os protestos foram violentos. Na segunda-feira, um militante sul-coreano morreu no hospital, após atear fogo ao próprio corpo para protestar contra a decisão do governo. Novas manifestações estão programadas para as próximas horas. Os organizadores esperam reunir até um milhão de pessoas. A polícia, porém, acredita que até 200 mil manifestantes, 150 mil delas na capital, devem participar dos protestos. Milhares de policiais estão mobilizados em todo o país para impedir atos de violência. O presidente Lee Myung-Bak enfrenta a pior crise desde que assumiu o poder, em 25 de fevereiro. Sua popularidade registra queda todos os meses. Os críticos o acusam de ter cedido à pressão dos Estados Unidos, que fizeram da retomada das importações uma condição prévia para a ratificação de um histórico acordo de livre comércio assinado com Seul em abril de 2007. Diante dos protestos, o governo anunciou no início do mês que o país não importaria carne bovina com mais de 30 meses, o que retarda de fato a retomada das importações. Agora Seul busca obter emiendas ao acordo de abril, ao mesmo tempo que destaca não ter condições de renegociar o mesmo de maneira profunda. Duas equipes de negociadores sul-coreanos foram enviadas na segunda-feira a Washington para tentar encontrar uma solução. Seul aceitou em janeiro de 2006 reabrir seu mercado de carne bovina desossada de animais com menos de 30 meses, mas as autoridades rejeitaram desde então várias entregas após a descoberta de pequenos fragmentos de ossos. Antes da instauração do embargo em 2003, a Coréia do Sul comprava a cada ano 850 milhões de dólares de carne americana.