HARARE - O líder da oposição zimbabuense Morgan Tsvangirai foi preso nesta quarta-feira (04/06) a menos de um mês para o segundo turno das eleições presidenciais que disputa com o chefe de Estado Robert Mugabe. O governo de Harare também proibiu a ação de várias ONGs, apesar da deterioração da situação humanitária. O chefe do Movimento para a Mudança Democrática (MDC) foi preso junto com vários outros dirigentes do partido perto de Lupane (sudoeste), indicou à AFP o porta-voz do partido, Nelson Chamisa.
O grupo ficou detidoinicialmente durante duas horas e depois transferido à delegacia de Lupane. "Os policiais não nos deram explicações" para as detenções, acrescentou Chamisa. "Disseram exatamente: os nossos chefes querem vê-los". Entre as pessoas presas figuram o vice-presidente do partido Thokozani Khupe e o diretor-geral Lovemore Moyo.
Durante as eleições gerais de 29 de março, o MDC obteve uma vitória histórica sobre o presidente Mugabe, de 84 anos, que dirige a ex-colônia britânica desde 1980: a oposição conquistou o controle da Assembléia nacional e o seu líder obteve mais votos no primeiro turno presidencial. Desde então, a tensão só aumentou no país. As organizações internacionais, dentre elas as Nações Unidas, constataram uma multiplicação da violência política, provocada principalmente por partidários de Mugabe.
O MDC assegura que 58 dos seus membros foram mortos e pelo menos 25 mil dos seus partidários foram deslocados por estes ataques. Quatro deputados do MDC foram presos igualmente e o líder de uma facção dissidente do partido, Arthur Mutambara, foi interpelado por críticas contra o chefe do Estado. Neste tenso contexto, Tsvangirai deixou o país durante seis semanas, oficialmente para pedir aos líderes da região que façam pressão para que Robert Mugabe se retire.
Na sua ausência, o regime ameaçou implicitamente prendê-lo por "traição", porque havia proclamado sua vitória antes da publicação dos resultados oficiais. Desde o regresso de Tsvangirai em 24 de março, a campanha da oposição encontrou numerosos obstáculos, principalmente a proibição de comícios eleitorais.
Na terça-feira, ele acusou o presidente Mugabe de "querer transformar o país em uma zona de guerra para enfraquecer a vontade do povo e adiar as eleições de 27 de junho". "Mas não pararemos a nossa campanha. O povo não irá parar de apoiar o MDC e, juntos, faremos cair este regime ilegítimo e desesperado", disse.
Tsvangirai, de 56 anos, é um ex-líder sindical, já foi acusado e preso inúmeras vezes. Em fevereiro de 2002, antes das eleições presidenciais, já tinha sido acusado de "traição". Além disso, o governo ordenou que três organizações não-governamentais (ONG) internacionais, Save The Children, Care Internacional e a Agência de desenvolvimento e de Socorro adventista (Adra) encerrem imediatamente suas atividades.