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Ban Ki-moon: mundo não pode fracassar ante grave crise de alimentos

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ROMA - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, advertiu nesta quarta-feira (04/06), na reunião de cúpula da FAO, em Roma, que o mundo "não pode permitir-se fracassar" ante a grave crise de alimentos e exigiu um esforço financeiro de 15 bilhões de dólares a 20 bilhões de dólares anuais para aliviá-la. "Não podemos fracassar. É uma luta que não podemos perder, a fome cria instabilidade e temos que reagir unidos e imediatamente", advertiu Ban Ki-moon. "O plano de ação deve ser colocado em prática urgentemente, milhões de pessoas esperam", acrescentou. "É um assunto que afeta todo o mundo, consumidores e agricultores. Convido os líderes do mundo a se comprometerem aqui em Roma a lutar contra a fome conjuntamente com os países e as organizações da sociedade civil", completou. A atual escalada de preço dos alimentos, que conheceram um aumento de 53% nos primeiros quatro meses de 2008 em relação ao mesmo período de 2007, afeta os países mais pobres, tendo sido motivo de revoltas em vários países do Caribe, África e Ásia. Segundo o coordenador da 'unidade de crise' criada pela ONU, John Holmes, há "um amplo consenso" entre os países sobre as soluções a serem adotadas, antes de mais nada a de incrementar a produção agrícola, por anos desatendida pelas entidades internacionais. Um "plano de ação", que inclui ajuda aos agricultores da África, eliminação de barreiras comerciais, além de medidas de proteção social, deverá estar pronto no "final de junho" para ser apresentado aos países mais industrializados do G-8 no mês de julho no Japão. Chefes de Estado e de Governo e representantes de 193 países, reunidos até a próxima quinta-feira na sede em Roma da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) deverão aprovar uma declaração final. Segundo fontes das delegações, alguns pontos delicados da declaração ainda não foram definidos, entre eles a questão dos biocombustíveis e das subvenções agrícolas. Junto com a ONU, o Banco Mundial (Bird) também apresentou nesta quarta-feira, em Roma, seus planos para conter a crise alimentar mundial e mobilizar urgentemente os fundos necessários, advertindo contra qualquer fracasso de sua ação. Para o presidente do Bird, Robert Zoellick, é fundamental suprimir as barreiras comerciais às exportações, que estimulam o aumento do preço dos alimentos e afetam as populações mais pobres do planeta. "Temos que fazer uma convocação mundial para que as restrições e as barreiras alfandegárias às exportações sejam eliminadas. Estes controles estimulam o aumento dos preços e afetam as populações mais pobres do planeta que lutam pelos alimentos", declarou Zoellick. O pedido foi apoiado por boa parte dos países latino-americanos, incluindo o Brasil, que reiterou as críticas no encontro ao protecionismo da Europa e dos Estados Unidos. O presidente do Banco Mundial apresentou um programa de 10 pontos para lutar contra a fome e transformar "os preços elevados dos alimentos numa oportunidade para desenvolver a agricultura mundial". "A decisão aqui em Roma é clara. Ou milhões de pessoas têm o que comer ou não têm nada", assegurou Zoellick. Os organismos internacionais concordam em considerar como grave ou urgente a atual crise alimentar, que arrasta cerca de 100 milhões de pessoas para um estado de desnutrição. Como resposta ao pedido urgente das entidades, o Banco Islâmico de Desenvolvimento anunciou a doação de 1,5 bilhão de dólares para programas de ajuda alimentar. A mesma FAO deu o exemplo ao desbloquear 17 milhões de dólares para necessidades imediatas dos agricultores dos países mais pobres. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) também anunciou que concederá uma ajuda de 1,2 bilhão de dólares para a aquisição de alimentos em 62 países pobres, entre eles Haiti, Somália e Etiópia, afetados pela fome. A "unidade de crise" formada pelos chefes das agências das Nações Unidas e as instituições econômicas e internacionais está harmonizando as propostas das várias entidades para adotar um "plano de ação global", que deverá ser ratificado pelos países do G8, em julho, no Japão. Mas a maneira com que se deve incrementar tal produção constitui um dos pontos de dificuldade da cúpula, já que estão em jogo interesses que vão da produção de sementes geneticamente modificadas até políticas comerciais e a fabricação dos biocombustíveis.