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Obama se proclama candidato democrata sem que Hillary admita a derrota

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SAINT PAUL - O senador democrata Barack Obama se proclamou na noite desta terça-feira candidato democrata à presidência dos Estados Unidos depois de obter a quantidade de delegados necessária para concorrer à Casa Branca, apesar de sua rival Hillary Clinton não ter admitido a derrota. Segundo as projeções da imprensa, Obama, que baseou sua campanha na palavra mudança, alcançou os 2.118 delegados que precisava para ser o primeiro candidato negro de um dos principais partidos do país em uma eleição presidencial. Os americanos comparecem às urnas no dia 4 de novembro. O próprio senador por Illinois, de 46 anos, se declarou o candidato do partido, após vencer as primárias em Montana e perder na Dakota do Sul, onde aconteceram as últimas votações internas democratas. "Esta noite estou diante de vocês e afirmo que serei o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos", afirmou Obama em um discurso feito em um local simbólico: Saint Paul (Minnesota), onde acontecerá a convenção republicana em setembro. "Americanos, este é o nosso momento, esta é a nossa hora, chegou o momento de mudar a página das políticas do passado, de levar uma nova energia e novas idéias para as dificuldades que enfrentamos, de oferecer um novo rumo a este país que tanto amamos". "O caminho será longo. Enfrentarei este desafio com grande humildade e ciente de meus próprios limites, mas vou encará-lo com uma fé sem limite na capacidade do povo americano", destacou Obama. As primárias na Dakota do Sul e Montana colocaram um ponto final em uma das mais prolongadas e disputadas primárias no lado democrata. O processo, que teve início há cinco meses em Iowa, deixou o partido profundamente dividido. Por isso, os dois pré-candidatos tentaram unir os democratas nos discursos de terça-feira à noite. "Hillary Clinton fez história nesta campanha não apenas por ser uma mulher que fez algo que nenhuma mulher fez antes, mas porque é um líder que inspira milhões de americanos com sua força e coragem", declarou Obama. "Obama inspirou muitos americanos a se preocuparem com a política e incentivou muitos a se envolverem", disse por sua vez a ex-primeira-dama. A senadora Hillary Clinton se recusou a desistir da corrida pela indicação democrata à Casa Branca, em um discurso em Nova York. "A pergunta é: aonde vamos agora? E diante do tão longe que já fomos e de onde precisamos ir como partido, esta pergunta não posso responder levianamente. Esta tem sido uma longa campanha e não tomarei decisões esta noite", disse. "Entendo que muita gente pergunte: o que Hillary quer?", disse a senadora, antes de destacar que "quero o fim da guerra no Iraque, quero que a economia cresça, quero que haja uma assistência médica para todos os americanos". "Quero que os cerca de 18 milhões de americanos que votaram em mim sejam respeitados, ouvidos...", disse a senadora por Nova York. Hillary Clinton revelou que consultará os dirigentes democratas e sua família para decidir o que será melhor "para nosso partido e nosso país". A senadora homenageou Obama dizendo que "foi uma honra disputar estas primárias com ele, como será uma honra no futuro chamá-lo de amigo". Quase 30 superdelegados, os grandes líderes do partido - que têm liberdade para votar em quem desejam e mudar de voto até o último momento e representam 40% dos votos na convenção -, deram um apoio determinante a Obama no decorrera da terça. O senador afro-americano deve ser anunciado como candidato do partido na convenção de Denver (Colorado), em agosto, onde os superdelegados ainda podem mudar de voto. Um dos principais desafios de Obama será seduzir os eleitores latinos, que foram amplamente favoráveis a Hillary nas primárias. Quem se antecipou aos democratas foi o candidato republicano John McCain, que fez um discurso em Nova Orleans repleto de ataques a Obama. O veterano senador de 71 anos, que garantiu a candidatura em março, criticou a "falsa mudança" prometida por Obama e sua posição contrária à aprovação de novos acordos comerciais. McCain, ex-prisioneiro de guerra no Vietnã, aproveitou para tentar se afastar do atual presidente George W. Bush, a quem sempre é comparado pelos democratas, lembrando, por exemplo, que discordou da atual administração sobre a gestão da guerra no Iraque. Segundo uma pesquisa do instituto Gallup publicada na terça-feira pelo jornal USA Today, Obama tem uma leve vantagem sobre McCain nas intenções de voto para as eleições de novembro, com 47% contra 44%. Há um mês a proporção era de 47% para o republicano e 45% para o democrata. Com Hillary como candidata, a vantagem democrata passa a 49% contra 43%, segundo a mesma pesquisa.