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Lula defende posição dos países pobres em reunião da FAO

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ROMA - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, censurou as políticas que empobrecem os vizinhos, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o protecionismo dos países ricos, no início da reunião de cúpula da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em Roma, sobre a crise alimentar mundial. Diante de vários chefes de Estado e de Governo presentes ao evento, o presidente atacou o protecionismo dos países ricos que subsidiam seus produtos agrícolas e defendeu a produção brasileira de etanol a partir de cana-de-açúcar. Lula descartou a possibilidade do etanol produzido pelo Brasil ser um dos fatores que provocam a alta dos alimentos. "É intolerável o protecionismo que atrofia e desorganiza a produção agrícola dos países, sobretudo os mais pobres. A razão da atual crise de alimentos é sobretudo a distribuição", afirmou. O presidente de uma das maiores potências agrícolas mundiais considera que entre os fatores que influenciam a alta espetacular dos preços dos alimentos está o elevado preço do petróleo, que passou de 30 a 130 dólares em pouco tempo. No domingo, Lula já defendera de modo veemente a produção de biocombustíveis derivados da cana-de-açúcar, por considerar que "não ameaçam a produção de alimentos" e contaminam menos que outros combustíveis. "Não é o etanol que eleva o preço dos alimentos porque o Brasil, que produz mais biocombustíveis, também produz mais alimentos", afirmou. O secretário-geral da ONU também pediu aos participantes na reunião "um maior grau de consenso internacional sobre os biocombustíveis" (principalmente etanol e biodiesel). Em seu discurso, Ban pediu uma rápida conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) para eliminar "as políticas econômicas que distorcem os mercados". "Temos uma oportunidade histórica para revitalizar a agricultura", disse Ban Ki-moon ao abrir a reunião de três dias na sede da FAO. Diante de quase 40 chefes de Estado e de Governo, o secretário-geral da ONU denunciou "as políticas alimentares que empobrecem os vizinhos" e destacou que a produção de alimentos deveria aumentar 50% até 2030 para suprir as necessidades. Ban advertiu que o mundo deve "responder imediatamente" ao aumento dos preços, que atingiram valores recordes, para melhorar a longo prazo a segurança alimentar. O secretário-geral das Nações Unidas pediu ainda "compromissos firmes para seguir adiante" e garantiu que será necessário "aumentar os apoios financeiros". Já o Papa Bento XVI afirmou que a fome e a desnutrição são inaceitáveis, em uma mensagem enviada à reunião de cúpula da FAO. "A fome e a desnutrição são inaceitáveis em um mundo que dispõe na verdade de níveis de produção, recursos e conhecimentos suficientes para acabar com este tipo de dramas e suas conseqüências", declarou em nome do Papa o cardenal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano. O Papa também pediu a todos a "globalização da solidariedade". O primeiro-ministro japonês Yasuo Fukuda pediu durante a reunião que os países disponibilizem ao mercado internacional suas reservas de alimentos e anunciou que o Japão está disposto a desbloquear mais 300.000 toneladas de arroz importado. "Considero que não é apenas uma medida de urgência sobre a falta de mantimentos, e sim uma medida a curto prazo para recuperar o equilíbrio no mercado alimentar", disse. Os preços mundiais dos alimentos quase dobraram nos últimos três anos e provocaram muitos protestos em países como o Egito e o Haiti, além de vários países africanos. Brasil, Vietnã, Índia e Egito adotaram restrições à exportação de alimentos. A crescente utilização de bicombustíveis, as restrições comerciais, o aumento da demanda asiática, as colheitas insuficientes e o aumento dos custos do transporte são considerados os principais culpados pelo aumento dos preços.