ROMA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se encontra em Roma onde, junto com os líderes de 193 países, participará nas discussões sobre a grave crise mundial provocada pela alta dos preços dos alimentos e do petróleo. A reunião de cúpula extraordinária convocada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) será realizada depois de vários meses de revoltas por causa da fome sentida em países como Haiti, Filipinas, Indonésia, México e Egito.
Além de Lula, estarão presentes os chefes de Estado Cristina Kirchner (Argentina), Nicolas Sarkozy (França), Hosni Mubarak (Egito) e Mahmud Ahmadinejad (Irã), assim como os chefes de Governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, e do Japão, Yasuo Fukuda. Também foram convidados os chefes do Banco Mundial, Robert Zoellick, do FMI, Dominique Strauss-Khan, ONGs como o Movimiento dos Sem-terra (MST), do Brasil, que defenderão alternativas de desenvolvimento sustentável e questionarão o modelo econômico que domina o mundo.
A FAO tentará rebater as críticas contra sua gestão, como as feitas recentemente pelo presidente do Senegal, Abdulaye Wade, que a considera uma organização ineficaz, e também tentará reconquistar sua posição de líder com a busca de soluções para a alta dos preços. O diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, que também é senegalês, minimizou o ataque de Wade alegando que se trata de uma polêmica motivada por razões políticas internas. Mas as críticas do dirigente africano à instituição não são as únicas.
Há doze anos, em novembro de 1996, foi realizada também em Roma a primeira reunião de cúpula mundial sobre a alimentação, durante a qual a comunidade internacional se comprometeu a reduzir, até 2015, à metade o número de pessoas que passam fome no mundo, algo em torno de 800 milhões, um objetivo que, segundo os especialistas, não será alcançado. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, deverá propor em seu discurso inaugural um plano de ação imediato para aliviar a situação humanitária.
Segundo um informe da FAO divulgado na semana passada, 22 países, em sua maioria africanos, são particularmente vulneráveis ao aumento dos preços dos alimentos e combustíveis. Os países assinalados pela FAO são Eritréia, Níger, as Ilhas Comores, Botsuana, Haiti, Libéria, Burundi, Tadjiquistão, Serra Leoa, Zimbábueabwe, Etiópia, Zâmbia, República Centro-africana, Moçambique, Tanzânia, Guiné-Bissau, Madagascar, Malawi, Camboja, Coréia do Norte, Ruanda e Quênia.
Para vários países europeus ou em desenvolvimento (como Cuba e Venezuela), parte da responsabilidade se deve ao boom dos combustíveis alternativos (como o etanol ou biodiesel), uma versão rebatida pelo Brasil, principal produtor dessas energias junto com os Estados Unidos. Lula voltou a defender o etanol da cana-de-açúcar como biocombustível, afirmando que não provoca escassez de alimentos nem inflação para os pobres, e criticou as "especulações" do mercado petroleiro. "Se as pessoas quiserem respeitar seriamente o Protocolo de Kyoto, os biocombustíveis derivados da cana representam uma solução", afirmou, condenando ao mesmo tempo os provenientes do milho e do trigo.