O novo líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Alfonso Cano, tem pela frente o desafio de manter a coesão de uma guerrilha que, se por um lado ainda representa uma considerável força militar, por outro, parece desestabilizada após uma série de importantes baixas entre seus líderes nos últimos três meses, e que sofre também com problemas de comunicação.
Dono de um perfil mais político que militar, Cano foi escolhido por unanimidade para substituir Manuel Marulanda, o octagenário fundador das Farc, morto no último dia 26 de março, segundo um comunicado emitido no domingo pela guerrilha. O fato de que as Farc destacaram a unanimidade de sua decisão na designação de Cano não significa pouca coisa, segundo o analista político e professor da Universidade Nacional, Darío Acevedo, autor do livro "Tempos de paz, acordos na Colômbia, 1902-1994".
Segundo Acevedo, Cano enfretará três grandes desafios como líder da principal guerrilha colombiana: manter a unidade, elevar o moral dos combatentes após a perda de três dos sete membros do Secretariado desde março e se impor sobre a ala militarista das Farc, chefiada por Jorge Briceño "Mono Jojoy". "Cano tem pela frente os três desafios que se colocam para as Farc: conseguir a reunificação de suas forças, deter o processo de erosão do moral e superar as rivalidades internas", apontou Acevedo, que também foi professor do Instituto de Altos Estudos de América Latina da Universidade de Paris III.
As diferenças entre Cano e Briceño são notórias. Ambos tinham acesso direto a Marulanda, mas por razões bastante diferentes. Formado em Direito, Cano era o intelectual preparado a quem Marulanda - um camponês que passou mais de 60 anos de sua vida isolado nas montanhas - escutava com atenção nas questões políticas. Acredita-se que ele tenha sido a inspiração por trás da União Patriótica, partido político criado pelas Farc nos anos 80 como parte de um fracassado processo de paz.
Briceño, ao contrário, é filho de um antigo combatente das Farc, nascido em pleno acampamento guerrilheiro, e sua figura ocupa atualmente o topo da hierarquia militar do movimento. Foi responsável pelos mais importantes triunfos das Farc sobre o Exército colombiano na década de 90. Além disso, é um homem que tem sob sua responsabilidade a custódia dos 39 reféns mantidos pela guerrilha, entre eles a política franco-colombiana Ingrid Betancourt e três americanos.
Em relação aos seqüestrados, Cano terá que definir se persiste na estratégia de prolongar sua solução, como têm feito as Farc até agora, ou se busca uma negociação por intermédio de canais internacionais. Entretanto, caso se decida pelo segundo caminho, o novo lider da mais antiga guerrilha latino-americana deverá superar alguns obstáculos internos.
"Cano não possui o mesmo nível de contatos com as pessoas que poderiam ajudar nessa questão, como era o caso de Raúl Reyes, e portanto não será tão fácil negociar um acordo humanitário", aponta a ex-chanceler María Emma Mejía, do Pólo Democrático (esquerda), que participou de diálogos com a guerrilha. Para Camilo Gómez, ex-comissário de paz do governo de Andrés Pastrana (1998-2002), Cano tem a tarefa inicial de "se consolidar internamente". "Depois virão as mudanças externas", concluiu.