Mianmar abre gradualmente o acesso dos voluntários estrangeiros à zona devastada pelo ciclone Nargis e a comunidade internacional decidiu que continuará enviando ajuda humanitária, apesar de sua indignação com a extensão da prisão domiciliar da opositora Aung San Suu Kyi por mais um ano, conforme decretada nesta terça-feira pela junta militar que governa o país.
O presidente George W. Bush, um dos maiores críticos do regime birmanês, se declarou profundamente aborrecido com a prisão da líder da Liga Nacional pela Democracia (LND), mas assegurou que a política não interferirá na ajuda humanitária ao país do sudeste asiático. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por sua vez, afirmou que, apesar de lamentar a decisão da junta, está impaciente por voltar a Mianmar para constatar os progressos da distribuição da ajuda internacional.
Mais de três semanas depois da passagem do ciclone que, segundo um balanço oficial deixou pelo menos 133.600 mortos e desaparecidos e 2,4 milhões de flagelados, as organizações humanitárias afirmaram notar uma crescente abertura por parte da junta militar, até há pouco tempo hostil a qualquer ajuda externa.
As diferentes agências da ONU têm equipes com mais de 200 pessoas em Yangun. Seis membros do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e três do Programa Mundial de Alimentos (PMA) puderam viajar ao delta do Irrawaddy (sudoeste), a zona mais devastada, segundo Richard Horsey, porta-voz em Bangcoc.
Inúmeros voluntários estrangeiros esperavam há semanas por um visto de entrada em Mianmar, enquanto que os que já estavam em Yangun tinham dificuldades para obter autorização para viajar a Irrawaddy. O regime birmanês fez outra concessão ao anunciar aos particulares birmaneses, que se viajaram espontaneamente às regiões afetadas para distribuir alimentos e roupas, que serão bem recebidos.
Até agora as autoridades locais se esforçavam para dissuadir os esforços das pessoas que tentavam levar ajuda às vítimas obrigadas a mendigar pelas estradas. "Todo mundo pode realizar doações livremente", anunciou nesta quarta-feira, em sua primeira página, o jornal estatal New Light of Myanmar. Também fez um pedido incomum de doações privadas de tratores, combustíveis e alimentos para os agricultores do delta cujos arrozais foram devastados pelo ciclone.
Mais de 4 mil km2 de plantações foram devastadas na passagem do ciclone Nargis, nos dias 2 e 3 de maio, na região dos arrozais de Mianmar, informa o New Light of Myanmar. "Mais de um milhão de acres de terreno cultivável foram inundados pelo mar", afirma o jornal oficial da junta militar.
De acordo com o jornal, 280 mil cabeças de gado desapareceram na passagem do ciclone e os agricultores precisam de tratores, combustível, adubo e sementes antes do início, em poucas semanas, da temporada de colheita de arroz. "A assistência do governo e de doadores individuais poderá seguramente contribuir para o abastecimento da região em alimentos", afirma o jornal.
O ciclone Nargis deixou pelo menos 133.600 mortos e desaparecidos e mais de 2,4 milhões de desabrigados. A região mais devastada foi o delta de Irrawaddy (sudoeste), principal área produtora de arroz do país. O fenômeno provocou um fluxo de água do mar que destruiu vários arrozais.