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Ex-comandante da ditadura argentina vai a julgamento

O general Menéndez é considerado um dos mais temíveis ex-comandantes da ditadura argentina, que durou de 1976 a 1983

BUENOS AIRES - O general da reserva Luciano Benjamín Menéndez, considerado um dos mais temíveis ex-comandantes da ditadura argentina (1976-83), será julgado a partir desta terça-feira (27/05) por crimes cometidos no campo de concentração La Perla e em outros centros de extermínio da província de Córdoba (centro). Menéndez, também conhecido como "Cachorro" ou "a Hiena de La Perla", que completará 81 anos durante as audiências, estará sentado no banco dos réus junto com outros sete militares, como parte de um processo por assassinatos, privação ilegítima da liberdade e torturas cometidas contra quatro pessoas. Menéndez foi acusado em 1994 pela justiça de Roma pelo desaparecimento de cidadãos italianos na Argentina e acusado de genocídio pela justiça espanhola. O militar deverá apresentar-se nesta terça a um tribunal de Córdoba, capital homônima a 700 km ao norte de Buenos Aires, onde cumpre prisão domiciliar, beneficiado por ter mais de 70 anos. Entre 1975 e 1979, Menéndez foi chefe do Terceiro Corpo do Exército, com jurisdição sobre províncias do centro e do noroeste do país, uma das regiões onde recrudesceu o terrorismo de Estado, e que tem em aberto centenas de causas por violações aos direitos humanos. Será também julgado por crimes cometidos como parte do Plano Cóndor, de coordenação entre as ditaduras do Cone Sul nos anos 70. A ferocidade do ex-comandante da ditadura ficou imortalizada por uma charge de 1984, retratando-o em posição de combate, com roupa de camuflagem e empunhando uma faca de pára-quedista, a ponto de agredir manifestantes às portas de um canal de televisão. Crimes Em 1988 havia sido processado por 47 casos de homicídio, 76 de torturas, quatro deles seguidos de morte e quatro roubos de bebês, mas foi beneficiado em 1990 por um indulto do ex-presidente Carlos Menem (1989-99). Nesse julgamento, os acusados deverão responder pelo seqüestro em novembro de 1977 dos militantes políticos Humberto Brandalisis, Carlos Lajas, Raúl Cardozo e Ilda Flora Palacios. Os quatro, vistos em La Perla, foram logo assassinados a sangue frio em 15 de dezembro de 1977, numa tentativa dos militares de simular um confronto, segundo depoimentos de sobreviventes. La Perla, a oeste de Córdoba, foi um dos maiores centros clandestinos, onde foram torturados e desapareceram pelo menos 2.500 adversários políticos do regime ditatorial e onde funciona agora um Museu da Memória. Brandalisis, Lajas e Cardozo prosseguem desaparecidos enquanto que o corpo de Palacios pôde ser identificado numa fossa comum e entregue em 2004 a suas filhas Soledad e Valeria. Segundo o livro Nunca Mais, que copilou depoimentos e foi base do histórico julgamento das Juntas Militares em 1985, Menéndez supervisionou pessoalmente torturas e fuzilamentos de presos políticos. Além de Menéndez, serão julgados o coronel da reserva e chefe da Inteligência do Exército em Córdoba, Hermes Oscar Rodríguez (75 años) e o capitão da reserva Jorge Exequiel Acosta (62), o comandante das operações de La Perla.