Manuel Marulanda Vélez, o "Tirofijo", líder histórico das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) cuja morte foi confirmada pela guerrilha neste domingo, deixou em apuros o governo colombiano ao adotar o seqüestro de reféns como estratégia para recuperar rebeldes presos.
"O grande líder se foi", aponta o comunicado das Farc, que também anuncia Alfonso Cano como substituto de Marulanda no comando da guerrilha.
Pedro Antonio Marin, seu verdadeiro nome, nasceu em 12 de maio de 1928 em Génova, uma aldeia cafeeira do centro-oeste da Colômbia, em uma família de pequenos agricultores, e era o mais velho de cinco irmãos.
Após o assassinato de Jorge Eliécer Gaitan, líder da ala de esquerda do Partido Liberal, em 1948, Marulanda e 14 primos criaram uma milícia camponesa para enfrentar grupos de ex-policiais armados pelo governo conservador.
A maioria dos membros do grupo acabou assinando um armistício em 1953, mas "Tirofijo", incentivado pelo Partido Comunista, não entregou as armas e assumiu então o nome Marulanda, em homenagem a um dirigente sindical.
Em 1964, participou da criação do "Bloco Sul", o embrião das Farc, com um programa de reivindicações cujo destaque era a reforma agrária. Graças a sua habilidade militar e ascendência sobre as tropas, foi designado líder do movimento.
Em 27 de maio daquele ano, a nova guerrilha teve seu batismo de fogo, quando o Exército bombardeou e enviou mais de 5.000 homens para a chamada república independente de "Marquetalia" (sul).
Marulanda e seus 48 homens conseguiram escapar do cerco, mas o Exército o deu como morto e passou a chamá-lo jocosamente de "Tirofijo", referindo-se à sua pontaria certeira.
Rumores
Rumores sobre sua morte apareceram numerosas vezes desde então. A última delas foi em 2004, quando uma jornalista colombiana garantiu que ele sofria de um câncer em fase terminal.
Entretanto, documentos encontrados no computador encontrado no acampamento de Raúl Reyes, morto no dia 1º de março pelo Exército colombiano, apontavam que Marulanda continuava vivo. Afirma-se que Reyes era, além de número dois das Farc, genro de "Tirofijo".
Arturo Alape, que militou nas fileiras das Farc e foi biógrafo de Marulanda, o descrevia como tímido e reservado. Por outro lado, desertores da guerrilha afirmam que ele era tão carismático e leal quanto impiedoso com seus homens.
Seu rosto, de traços marcadamente indígenas, tornou-se familiar para os colombianos quando participou de negociações de paz com o então presidente Belisario Betancur (1982-86), processo que naufragou em meio a uma campanha na qual paramilitares de direita mataram mais de 3.000 membros da União Patriótica, partido criado pela guerrilha.
Em 9 de dezembro de 1990, o Exército lançou um novo ataque contra Marulanda e o estado-maior das Farc na localidade de Casa Verde (centro), um dos principais bastiões da guerrilha.
Apesar da ofensiva, a extensa presença de rebeldes nas zonas cocaleiras permitiu que a guerrilha financiasse suas atividades com o narcotráfico e se espalhasse por 24 dos 32 departamentos colombianos.
Narcotráfico e seqüestros
O governo acusou Marulanda de introduzir o narcotráfico e os seqüestros na rotina da guerrilha, também denunciada pelo uso indiscriminado de minas terrestres e pelo recrutamento de centenas de crianças e adolescentes camponeses.
As Farc insistem em que se limitam a cobrar um "imposto" dos cocaleiros, embora os Estados Unidos - que junto com a União Européia inclui o grupo em sua relação de organizações terroristas - afirma que a guerrilha age como um cartel de cocaína.
Em meados dos anos 90, as Farc deram início a uma série de grandes ataques contra as forças de segurança do governo, nos quais centenas de policiais e soldados foram levados como prisioneiros. Cerca de trinta deles ainda permanecem em poder dos rebeldes.