A presidente argentina, Cristina Kirchner, enfrentará neste domingo (25/05) o primeiro grande ato opositor convocado por produtores rurais e políticos da direita, em protesto contra as medidas fiscais adotadas pelo governo, que causaram o conflito agrário que abala o país. A manifestação será em Rosário, a 300 quilômetros ao noroeste de Buenos Aires, um centro industrial que concentra o pólo de cereais mais importante da Argentina, e de cujo porto se exporta a soja, principal cultivo do país e detonador do maior conflito agrário da história, com mais de 70 dias.
O ato público pretende ser uma demonstração de força dos ruralistas e opositores, depois de fracassadas negociações na noite de quinta-feira entre dirigentes do setor agrário e o governo, que voltaram a acusar-se de impor obstáculos a um acordo. Também no domingo, Cristina participará de cerimônia de comemoração do 198º aniversário do primeiro governo independente da Coroa espanhola na província de Salta (norte), onde se reunirão grupos sociais e políticos.
A principal líder da oposição, a liberal Cristiana Elisa Carrió, acusou o governo de "mentir e enganar as entidades do campo", após fazer uma convocação ao ato de domingo. Carrió ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de outubro passado, com 23% dos votos, contra os 45,2% obtidos por Cristina.
O conflito agrário vem prejudicando a popularidade da presidente, que caiu em maio para 26%, 10 pontos a menos do que em abril, e muito menos do que os 47% registrados em março, de acordo com a consultora Poliarquía.
No ato de Rosario participarão legisladores do partido de direita PRO qliderado pelo prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, e representantes da União Cívica Radical (UCR, social-democrata), além de peronistas dissidentes e forças de esquerda trotskista.
A questão sobre a taxação do lucro sobre a soja parece ter chegado a um beco sem saída; o governo não abre mão de seu programa de impostos móveis às exportações de grãos, e os agricultores não aceitam essa medida e exigem sua suspensão, para que assim, as manifestações, greves e o alerta nos campos sejam suspensos.
O programa tributário desencadeou a rebelião agrária em março passado, que tomou um viés político quando os dirigentes opositores decidiram rebelar-se e protestar contra a medida.
A crise é considerada a pior vivida nos últimos cinco anos de poder dos Kirchner, já que antes de Cristina assumir o cargo no início do ano, seu marido, Néstor Kirchner presidiu o país (2203-2007). Atualmente especula-se que o ex-presidente divide o poder com sua mulher e, recentemente, tornou-se o titular do Partido Justicialista (PJ, peronista), no governo.
O protesto dos agricultores gerou uma greve de 21 dias em março, que provocou o desabastecimento, além do aumento dos preços e alimentos e dos insumos e que praticamente paralisou as exportações de cereais, ao que se seguiu um 'lockout' patronal em maio, levantado à meia-noite de quarta-feira. Eduardo Buzzi, titular da Federação Agrária, não descartou a possibilidade de retomar a greve e os bloqueios nas estradas.
No entanto, a prolongação do conflito ameaça o papel da Argentina de provedora mundial de alimentos, uma potência agrícola com capacidade de alimentar aproximadamente 300 milhões de pessoas, de acordo com dados oficiais. O país exportou em 2007 matérias-primas agrícolas e produtos agroindustriais por 45 bilhões de dólares, dos quais 13,4 bilhões foram fruto das vendas externas de soja e seus derivados.