DOHA - A maioria parlamentar libanesa apoiada pelos países ocidentais, e a oposição, com o respaldo do Irã e da Síria, conseguiram nesta quarta-feira (21/05) chegar a um acordo que prevê a eleição de um novo presidente e põe um fim aos 18 meses de crise política que ameaçava provocar uma guerra civil. Ambas as partes concordaram principalmente com a nomeação para presidente do chefe das Forças Armadas, o general Michel Sleiman, a formação de um governo de união nacional e a proibição do uso de violência com fins políticos.
O acordo, saudado de imediato por Síria, Irã, França e Liga Árabe, entre outros, contempla também um diálogo entre as partes para "estender a todas as regiões do país a autoridade do Estado", em particular sobre as forças armadas e policiais. O acordo foi anunciado pelo primeiro-ministro do Qatar, o xeque Hamad ben Jassem Al Thani, em Doha, onde os dirigentes de ambas as partes negociavam desde a última quinta-feira.
O cargo da presidência da República do Líbano estava vacante desde o fim do mandato do pró-sírio Emile Lahud em novembro de 2007. A reunião do Parlamento para eleger seu sucessor foi adiada 19 vezes. A crise política gerou sérios confrontos em 7 de maio que causaram a morte de 65 pessoas em uma semana e permitiram que a oposição, liderada pelo movimento radical xiita Hezbollah, tomasse o controle do setor oeste de Beirute, região de maioria sunita.
O chanceler sírio Walid al-Mualem, em visita a Manama, ressaltou "a importância do acordo obtido pelos irmãos do Líbano". O Irã "recebeu favoravelmente" o anúncio, com a esperança de que constitua "a primeira etapa para a liberação dos territórios libaneses ocupados" por Israel, segundo indicou o porta-voz da canchelaria, Mohammad Ali Hosseini. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, acredita que o acordo representa "um grande êxito para o Líbano", alertando que terá que ser "aplicado integralmente para que as bases de uma verdadeira reconciliação nacional sejam assentadas".
O general Sleiman, 59 anos, que pode ser eleito pelo Parlamento no próximo domingo, é o chefe das Forças Armadas desde 1988. Considerado um homem de consenso, soube preservar a unidade de suas tropas e permanecer afastado das disputas pelo poder. O Exército foi inclusive criticado por não intervir durante os últimos confrontos em Beirute entre xiitas e sunitas, mas o general respondeu que "envolver o Exército nos confrontos internos serviria somente aos interesses de Israel".
"O Exército é minha vida, não aceitarei nunca que se divida", afirmou há alguns meses. De família cristã, o general Sleiman acredita que "uma verdadeira educação cristã ensina o respeito da democracia, da liberdade e de todas as religiões e comunidades". Vários analistas em Beirute acreditam que o compromisso deve permitir relançar instituições e instaurar um novo equilíbrio de poder.
Para Patrick Haenni, analista do grupo de pesquisa International Crisis Group (ICG), o acordo pode aprofundar a divisão entre os dois campos com base em uma "identidade religiosa exacerbada". O Hezbollah é a única milícia libanesa que se mantém armada, oficialmente para se defender dos ataques de Israel, apesar do acordo assinado durante as negociações que estabelece que "a questão da resistência e de suas armas não é tema de discussão". O acordo de Doha "não resolverá as contradições básicas, porque há dois estados no Líbano: o próprio Estado e o Hezbollah", disse Paul Salem, diretor da Fundação Carnegie para o Oriente Médio.