MIANZHU - Nove dias depois do terremoto que deixou mais de 74 mil mortos e desaparecidos na China, o país concentra agora seus esforços nos cinco milhões de desabrigados que sobreviveram e estão em condições precárias, sob chuva e expostos ao risco de epidemias.
Nesta quarta-feira (21/05), toda a China viveu o terceiro e último dia de luto em homenagem às vítimas do terremoto. De acordo com o balanço oficial anunciado pelo governo chinês, até o momento 41.353 mortes já foram confirmadas, 32.666 desaparecidos e 274.683 feridos. Em respeito às vítimas, o governo tibetano em exílio na Índia pediu que os protestos contra Pequim fossem interrompidos temporariamente.
"Para expressar nossa solidariedade com este grande desastre natural que assolou a China, os tibetanos em todo o mundo devem interromper as manifestações diante das embaixadas chinesas nos respectivos países onde vivem", disse o porta-voz do governo tibetano em exílio, Thubten Samphel.
A busca por possíveis sobreviventes sob os escombros continuava nesta quarta-feira e uma mulher foi resgatada "milagrosamente" com vida após passar nove dias presa no interior de um túnel de uma central elétrica. Na terça-feira, outras duas pessoas também foram salvas com vida dos escombros. No entanto, agora as chances de encontrar sobreviventes são ínfimas e as equipes de socorro estrangeiras começam a deixar o país para dar lugar às equipes médicas.
O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, ordenou o envio de 40 mil tendas de campanha até o final de maio e de outras 900 mil em junho, somadas às 280 mil que já foram distribuídas em Sichuan, a província do sudoeste da China mais afetada pelo violento terremoto de 12 de maio. Precisa-se também com urgência de lonas e plásticos para proteger os sobreviventes das chuvas que começam a cair na região, transformando o chão em uma poça de lama e acelerando ainda mais a decomposição dos cadáveres e das carcaças de animais mortos.
Além do apoio psicológico dado às vítimas, um grupo de atletas chineses, liderados pela campeã olímpica de tênis de mesa Deng Yaping, viajou ao local da tragédia, onde falou com as crianças de uma escola improvisada em um dos inúmeros abrigos. No entanto, muitos moradores de Chengdu, capital de Sichuan, preferiram passar mais uma noite a céu aberto por medo de que ocorram fortes réplicas do terremoto.
Em Beichuan, um jornalista do jornal China Daily informou que o cheiro de cadáveres tomava conta da cidade, invadida por nuvens de moscas e mosquitos que geram o medo de que novas doenças se alastrem, apesar de até o momento nenhuma epidemia ter sido registrada. No entanto, o risco de doenças é real devido à concentração de centenas de milhares de refugiados em abrigos improvisados, sem água corrente e necessidades básicas.
Os responsáveis pela saúde pública temem o surgimento de epidemias de diarréia, hepatite A e cólera. Mas há uma ameaça ainda maior. Os médicos chineses receberam instruções para submeter todos os sobreviventes do terremoto a exames de detecção de gangrena gasosa, uma infecção bacteriana que pode ser mortal, afirmou nesta quarta-feira a imprensa oficial.
As autoridades de Pequim ordenaram aos médicos locais que detectem imediatamente os pacientes com gangrena gasosa, para tratá-los e isolá-los com o objetivo de evitar que a infecção se propague, informou o jornal China Daily. Aproximadamente 3.500 especialistas em inspeção sanitária e prevenção de doenças serão enviados à região, segundo anunciou o Ministério da Saúde.
Por precaução, o Ministério de Proteção ao Meio Ambiente publicou uma circular aconselhando as pessoas a não beberem água acessível em edifícios em ruínas, nem de poços e rios, que poderiam estar contaminadas pelos cadáveres, os resíduos médicos e desinfetantes. Para enfrentar essa situação, a China já arrecadou e recebeu ajuda estrangeira. Um total de 14 bilhões de yuanes, o equivalente a 1,25 bilhões de euros, segundo o ministério de Proteção Civil.
Como o envio da ajuda aos desabrigados na China é intermediado a nível nacional, provincial e local, a Comissão de Disciplina do Partido Comunista, consciente da possibilidade de que alguns intermediários mal intencionados possam ficar tentados e não repassar parte do dinheiro, ameaçou com graves sanções todos os que responsáveis culpáveis de desvio de verbas.