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Entrevista Thomas Schaller: Saída da senadora é um grande teste para o rival

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Quando estiver oficialmente encerrada a disputa com Hillary Clinton, Barack Obama terá pela frente mais um árduo caminho até a Casa Branca. Além de enfrentar um candidato republicano forte, ele deverá lidar com questões delicadas, como a saída de Hillary e a escolha de um vice-presidente capaz de conquistar os eleitores que ele não conseguiu nas primárias democratas. A análise é do professor da Universidade de Maryland Thomas Schaller, especialista em eleições norte-americanas. Em entrevista ao Correio, ele falou sobre os próximos passos da corrida presidencial e os desafios que Obama e McCain enfrentarão nos próximos meses. As chances de Hillary permanecer na corrida democrata até a convenção de agosto são mínimas. Entretanto, sua saída deve ser muito bem arquitetada. Qual seria o melhor momento para ela desistir da disputa? Acredito que ela deva deixar a corrida logo após as últimas primárias, em Montana e Dakota do Sul (no dia 3 de junho). Ela já está na reta final e só restam mais cinco prévias. Para quem já disputou mais de 50 prévias, não faz sentido sair agora. Mas é importante notar que, mais do que a própria Hillary, quem deve se preocupar em como a senadora sairá da disputa é Obama. Ele terá que se esforçar para unir todos os democratas, para não perder eleitores. Durante toda a disputa, o senador passou por momentos cruciais, como a sua vitória em Iowa - um estado majoritariamente branco - e as declarações polêmicas do reverendo Jeremiah Wright, mas talvez esse seja o seu maior desafio até a convenção em Denver. Ele deverá enfrentar a saída da concorrente com muito cuidado, respeitando Hillary e seus eleitores. Será um grande teste de liderança, maior até do que a escolha de seu vice. É realmente possível que Hillary seja escolhida para formar uma chapa com Obama? As chances são bem pequenas. Eu diria que há 20% de probabilidade de isso acontecer. Hillary possui apoio em estados que são seu ponto fraco, e ela tem se dedicado muito a eles nessas últimas semanas. Acho que ela pensará muito antes de aceitar um posto secundário. No entanto, encontramos na história alguns exemplos de chapas impensáveis, como Ronald Reagan e George Bush (pai), que não se gostavam e acabaram se unindo, e John F. Kennedy e Lyndon Johnson, que se odiavam e concorreram juntos. Mas acho difícil que isso ocorra agora. Acredito que Obama vá optar por um homem mais velho, branco, que possa conquistar um eleitorado parecido com o de John McCain. Quem poderia ser esse vice? Obama terá que escolher entre alguns nomes, levando em consideração outras linhas do partido, para conquistar importantes grupos de eleitores, como os hispânicos. Entre as opções estão ex-candidatos como o senador John Edwards, que já disse que não aceitaria, e o ex-vice-presidente Al Gore. Mas há ainda outra mulher que pode ser indicada: Kathleen Sebelius, governadora do Kansas - o estado da mãe de Obama. Então, pode haver alguma afinidade entre eles. Obama tem aparecido com uma certa vantagem nas pesquisas nacionais. Quais os obstáculos que McCain precisará enfrentar para ultrapassar o democrata? Apesar de estar na frente agora, a corrida ainda está muito apertada, e vai ser assim até o fim. McCain deverá prestar atenção principalmente no grupo que ainda apóia o presidente Bush - um terço dos eleitores do país. Essa parcela da população é a mais conservadora, que continua ao lado de Bush mesmo com a guerra, com os erros após a passagem do furacão Katrina, com a situação econômica do país. Além disso, esse grupo reúne eleitores importantes de Wall Street. Para McCain, não é possível ganhar uma eleição sem essa parcela de eleitores, mas também não pode vencer só com eles. O republicano terá que achar uma fórmula de se distanciar de Bush sem ofender os simpatizantes do presidente. Terá que mostrar que não é George W. Bush, que não representa um terceiro mandato do atual presidente e que seu governo trará algo diferente. Se ele conseguir fazer isso, tem chances de ganhar a eleição. Se não, será mais uma vez visto como a continuação de Bush. Obama é o mais jovem candidato à Presidência dos EUA. McCain, se eleito, será o presidente mais velho. O que pesa mais: experiência ou juventude? Os eleitores mais velhos tendem a optar pelos candidatos mais experientes. Por isso, McCain teria vantagem entre eles. E eles são um grupo fundamental em estados importantes, como a Flórida - que tem uma grande quantidade de aposentados. McCain certamente será beneficiado pelo fato de o grupo entre 50 e 65 anos ser um dos que mais comparece às urnas, ao contrário das pessoas abaixo dos 40. Mas o que vimos nessas primárias foi um grande aumento dos jovens votando, o que favorece Obama. Certamente a idade será um fator que vai pesar na decisão dos eleitores. Mas nós não sabemos a resposta para essa pergunta. Será preciso esperar para ver. Podemos dizer que Obama se beneficiou com a questão racial na campanha? Barack Obama fez um bom trabalho em se colocar como um John Kennedy pós-racial. E esse foi um papel fácil de desempenhar, já que, em primeiro lugar, ele é "meio-negro". Também é parente distante do vice-presidente Dick Cheney, provavelmente um dos homens mais brancos dos EUA. Então, Obama tem essa vantagem de se apresentar como um candidato diferente de pessoas como o reverendo Al Sharpton, que disputou as eleições em 2004, e Jesse Jackson, na década de 1980. Ele criou uma situação mais confortável entre os brancos que nunca votariam nesses candidatos negros. Obama não queria disputar uma campanha baseada na questão racial, porque poderia ofender muitas pessoas. Para quem já ia votar nele, isso não faria muita diferença, mas pode ser que ele perdesse votos entre os democratas. Mas ele certamente usou essa idéia de ser diferente e funcionou.