DUJIANGYAN - Do centro de Pequim até o devastado sudoeste do país, a China respeitou nesta segunda-feira (19/05) três minutos de silêncio que deram início a três dias de luto nacional pelas vítimas do terremoto do dia 12 de maio, cujo balanço chega a 71 mil entre mortos, desaparecidos e soterrados. Às 14h28 (3h28 de Brasília), horário do devastador terremoto da semana passada, sirenes soaram em todo país para marcar uma pausa na frenética atividade das grandes cidades.
Em Pequim, milhares de pessoas, muitas vestidas de negro, se reuniram na praça Tiananmen (praça da Paz Celestial) com bandeiras e gritando frases de apoio às vítimas. As atividades da Bolsa também foram interrompidas. Na cidade de Dijiangyan, devastada pelo tremor, 60 familiares de crianças que morreram na tragédia acenderam velas e incensos diante das ruínas de uma das várias escolas destruídas. Uma mulher que perdeu as duas filhas, Qiqi e Jiajia, chorava diante dos escombros do colégio. "Isto é insuportável", disse.
Em Pequim, soldados hastearam a bandeira nacional a meio pau. A Bolsa de Hong Kong também parou, assim como os cassinos de Macau. O luto oficial teve início no momento em que os esforços de resgate são dificultados pelos tremores secundários e os deslizamentos de terra. O ministério chinês dos Transportes informou que mais de 200 socorristas foram sepultados nos últimos três dias por deslizamentos de terra quando trabalhavam para reparar as estradas destruídas.
O governo havia estimado na semana passada em mais de 50 mil o número de vítimas possíveis pelo terremoto, mas este balanço já foi superado pelos dados divulgados pela maior autoridade política da província de Sichuan, Liu Qibao, que anunciou 32.173 mortes confirmadas, 9.509 soterrados e 29.418 desaparecidos apenas nesta região, a mais afetada pelo terremoto. O mais recente balanço oficial provisório divulgado pelo governo para todo o país registra 34.073 mortos.
A catástrofe despertou uma onda de emoção no país de mais de 1,3 bilhão de habitantes. Milhares se ofereceram como voluntários para as tarefas de socorro ou para cuidar das crianças que ficaram órfãs. Determinar o número de órfãos é impossível no momento, de acordo com Li Yahui, do programa chinês da ONG britânica Save The Children. Porém, o temor é de que seja extremamente elevado. "Vi muitas crianças órfãs em um estádio e é evidente que muitas delas perderam os pais. A situação é muito delicada, todas as crianças terão traumas psicológicos", disse.
Segundo a agência de notícias China News Service, esta é a primeira vez que o país tem um luto nacional por um desastre natural. Até a viagem da tocha olímpica foi suspensa durante três dias, em sinal de respeito. Durante 72 horas, a televisão não exibirá programas de entretenimento e na frenética Xangai as autoridades ordenaram o fechamento de cinemas, karaokês e outros estabelecimentos.
Os jornais e sites de todo o país não têm cores nesta segunda-feira. Os quatro ideogramas da manchete do Diário do Povo, órgão do Partido Comunista Chinês, normalmente em vermelho, foram impressos em preto, como toda a primeira página, com apenas uma foto a cores do presidente chinês Hu Jintao consolando um menino aos prantos. A primeira página do Beijing Times também era preto e branca, com a foto de uma vela e as palavras "Dia de luto", ao lado do número de mortos, que no domingo era de 32.476.
As equipes de resgate conseguiram retirar com vida dos escombros duas pessoas que permaneceram 164 horas soterradas. Porém, a esperança de encontrar mais sobreviventes é cada vez menor. "Levando em consideração a ajuda necessária pelo desastre, a Cruz Vermelha da China será autorizada a aceitar a entrada no país de equipes médicas estrangeiras para ajudar nos atendimentos médicos", informou o governo de Pequim.
A China também pediu a doação internacional de barracas para os milhões de sobreviventes que ficaram sem casa. Em termos econômicos, o violento terremoto custará mais de nove bilhões de dólares ao setor industrial de Sichuan e 0,2% do crescimento econômico chinês deste ano. Um total de 14.207 empresas de Sichuan perderam 1.387 funcionários na catástrofe. Um estudo preliminar mostra que estas empresas sofreram perdas de US$ 9,6 bilhões. Um jornal econômico estatal afirma que a previsão é de que o terremoto reduza em 0,2% o crescimento em 2008 de uma das economias de mais rápido crescimento do mundo.