YANGUN - A ONU vai organizar na Ásia uma reunião de emergência sobre a crise humanitária em Mianmar, onde a junta militar bloqueia a presença de equipes internacionais de ajuda, apesar da situação precária de centenas de milhares de sobreviventes do ciclone Nargis.
Diante da gravidade da situação humanitária no sul de Mianmar, uma "reunião de emergência vai ser convocada pelo secretário-geral da ONU", anunciou o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, destacando que a conferência será realizada na Ásia.
Graças à mediação dos asiáticos, a comunidade internacional quer evitar uma "segunda catástrofe" na antiga Birmânia e salvar a maioria dos cerca de dois milhões de sobreviventes, que estão com fome, com sede e desabrigadas, segundo as Nações Unidas.
Duas semanas depois de uma catástrofe que deixou mais de 71 mil mortos e desaparecidos, a junta militar anunciou vitória no referendo de 10 de maio, afirmando que mais de 92% dos eleitores aprovaram a nova Constituição.
O canal MRTV, controlado pela junta militar, informou ainda que a taxa de participação no referendo foi de 99%. As autoridades birmanesas ainda pretendem realizar o referendo nas zonas do país devastadas pelo cicline.
Ajuda dificultada
Enquanto isso, mesmo se cada vez mais aviões de ajuda humanitária pousem em Yangun, o regime birmanês limita o envio de voluntários estrangeiros às zonas mais afetadas pelo terremoto, como o delta do Irrawaddy (sudoeste). A junta rejeita qualquer operação comandada por estrangeiros.
Porém, as operações conduzidas pelos birmaneses são a pior resposta da "história recente" a uma catástrofe natural, criticou Mark Malloch Brown, alto representante da chancelaria britânica, cujo governo liberou uma verba suplementar de 12 milhões de libras e conclamou a junta a deixar os voluntários estrangeiros a trabalharem "sem obstáculos".
Em visita a Yangun, o comissário europeu ao Desenvolvimento, Louis Michel, também pediu a Mianmar "ações concretas" para abrir mais a porta à ajuda externa. Ele avisou ontem (quarta-feira) que o país é diretamente ameaçado pela fome, devido à destruição de "todos os estoques de arroz". Um navio francês, Le Mistral, partiu de Madras, na Índia, com 1.000 toneladas de mantimentos.
Ação da ONU
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou o desejo de enviar a Mianmar seu responsável pelos Assuntos Humanitários, John Holmes, para tentar "evitar esta segunda onda de vítimas que todos nós tememos devido ao risco de epidemias". Ban já reuniu os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), da qual Mianmar é membro.
O secretário-geral da Asean, o tailandês Surin Pitsuwan, confirmou um "consenso" para que a Asean lidere uma "coalizão da compaixão". A Tailândia se comprometeu a tentar convencer seu vizinho birmanês a aceitar uma visita de Ban Ki-moon a Yangun.
A organização Human Rights Watch pediu aos Estados doadores que se assegurem de que sua ajuda não é desviada pelas autoridades birmanesas. O Exército está no poder desde 1962 em Mianmar.