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Junta birmanesa mantém polêmico referendo constitucional

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YANGUN - "Aprovar a Constituição é uma obrigação nacional", reafirmou a junta militar birmanesa, que manteve para sábado na maior parte do país um polêmico referendo, apesar da destruição causada pelo ciclone Nargis e dos vários apelos pelo adiamento da votação. A formação política da opositora Aung San Suu Kyi, mantida em prisão domiciliar, pediu nesta sexta-feira (09/05) que a junta adie o referendo para a instauração de uma nova Constituição, devido à tragédia no sul de Mianmar ocorrida há uma semana (65 mil mortos ou desaparecidos, de acordo com o último registro oficial). Segundo a junta, a aprovação da Constituição abrirá caminho para eleições multipartidárias em 2010 e para uma transferência de poder progressiva para os civis, mas dissidentes consideram que o texto estabelece o contrário e reforça a supremacia do Exército, no poder desde 1962. "Não é o momento apropriado para realizar um referendo", declarou Nyan Win, porta-voz da Liga Nacional para a Democracia (LND) de Suu Kyi, premiada com o Prêmio Nobel da Paz. Perguntada se a LND faria um apelo aos eleitores para rejeitarem a Constituição dos generais, Nyan Win respondeu: "não mudamos. Ainda pedimos que a população vote pelo 'não'". A junta birmanesa adiou a votação para o dia 24 de maio em 47 cidades das regiões de Yangun e Irrawaddy, as mais afetadas pelo ciclone. Para todas as outras, ela foi mantida. "Aprovar a Constituição do Estado é uma obrigação nacional de toda a população", era a manchete nesta sexta-feira do jornal New Light of Myanmar, controlado pelo regime militar. "Vamos todos votar 'sim' pelo interesse nacional", conclamou o jornal. Enquanto as redes de televisão internacionais continuam a divulgar imagens da destruição provocada pelo ciclone Nargis, a TV estatal birmanesa exibe constantemente um vídeo musical, com dançarinos vestindo uniformes coloridos, pedindo aos cidadãos o voto no "sim". "Você tem 18 anos?", canta um homem. "Sim", responde uma mulher. "Eu vou votar". O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu aos generais birmaneses que dêem prioridade à "mobilização de todos os recursos disponíveis" para enfrentar a situação, provocada pelo Nargis, que deixou mais de um milhão de desabrigados. Os ministros francês e britânico das Relações Exteriores Bernard Kouchner e David Miliband lamentaram "a surpreendente decisão" das autoridades birmanesas de manter o referendo e pediram à junta que suspenda o quanto antes "todas as restrições à distribuição de ajuda" aos afetados. A oposição birmanesa foi excluída do processo de elaboração da Constituição que poderá tornar Suu Kyi inelegível, por um motivo controverso, seu casamento e seus dois filhos com um estrangeiro, o britânico Michael Aris, morto vítima de um câncer em 1999. Suu Kyi, 62 anos, mantida em constante isolamento em sua residência de Yangun desde 2003, foi privada de liberdade durante a maior parte dos 18 últimos anos. Para os birmaneses, o referendo de sábado será a primeira oportunidade de votar depois das eleições legislativas de maio de 1990 que foram vencidas com ampla vantagem pela LND. Os militares se recusaram a aceitar os resultados.