Rangum - A recusa da junta militar birmanesa em aceitar a presença de agentes humanitários estrangeiros para ajudar as vítimas do ciclone Nargis "não tem precedentes" na história moderna do trabalho humanitário, criticou nesta sexta-feira (09/05) a Organização das Nações Unidas (ONU). Apesar de ter aceitado ajuda internacional, a junta que governa o país do sudeste asiático negou vistos a agentes humanitários estrangeiros para que pudessem avaliar a extensão do desastre e gerenciar a logística das operações.
"A frustração causada pelo que parece ser uma demora burocrática não tem precedentes na história moderna dos esforços de ajuda humanitária", disse em Bangcoc um porta-voz do Programa Mundial de Alimentação da ONU. "É espantoso" Ele afirmou que o programa da ONU deu entrada em dez pedidos de visto em embaixadas de Mianmar em diferentes países, mas nenhum deles foi aprovado até o momento.
Quase uma semana depois da passagem do ciclone, aldeias inteiras ainda estão submersas e corpos são vistos flutuando enquanto crianças penduram-se no pescoço dos pais para atravessar as áreas alagadas. Há pelo menos 62 mil pessoas entre mortos e desaparecidos. Mais de 1 milhão de pessoas esperam por comida, abrigo e medicamentos. Muitos flagelados têm procurado monastérios budistas ou simplesmente acampado ao relento.
Grupos humanitários têm advertido que milhares de crianças podem ter ficado órfãs e que um desastre sanitário está prestes a acontecer. A ONU calcula que 1,5 milhão de pessoas tenham sido "gravemente afetadas" pelo ciclone e manifestou-se preocupada com a retirada dos corpos.