MOSCOU - A crise na Geórgia e o combate à inflação serão os principais desafios que terá que encarar o novo presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, segundo analistas. Em primeiro lugar, Medvedev terpa que lidar com o tema sensível da Abkházia e da Ossétia do Sul, dois territórios da Geórgia que proclamaram sua independência e provocam uma tensão crescente entre Moscou e Tbilisi. O ministro georgiano encarregado da Reintegração destes terrítorios, Temuri Yakobashvili, considerou nesta terça-feira em Bruxelas que os dois países estão "muito próximos" de uma guerra civil.
A Casa Branca, por sua vez, pediu à Rússia que pare com as "provocações" nestes dois territórios, para onde Moscou, que apóia os regimes separatistas, acaba de enviar mais soldados. O primeiro evento internacional do qual participará Dmitri Medvedev como presidente da Rússia será a cúpula do G8, prevista para o início de julho no Japão. Antes disso, ele deve viajar ao Cazaquistão, à China e à Alemanha. Para Fiodor Lukianov, redator-chefe da revista Rússia, parece pouco provável que o novo presidente mude as principais orientações definidas por seu predecessor e mentor, Vladimir Putin, em matéria de política externa.
"O slogan de Medvedev é a continuidade. Não faria sentido modificar uma política tão popular como a de Putin", destacou Lukianov. Sob Vladimir Putin, a Rússia se opôs aos Estados Unidos sobre o escudo antimísseis que Washington pretende instalar em países do Leste da Europa, e sobre a ampliação da Otan a ex-repúblicas soviéticas como a Ucrânia e a Geórgia. Ao contrário, Oksana Antonenko, do Instituto Internacional para os Estudos Estratégicos (IISS) em Londres, considerou que Medvedev poderia adotar uma posição menos conflitante com o Ocidente.
Segundo ela, Medvedev não tem nada a ver com os presidentes autoritários de Uzbequistão, Islam Karimov, ou de Belarus, Alexander Lukashenko. Para Boris Kagarlitski, diretor do Instituto dos estudos sobre a globalização em Moscou, a atitude de Medvedev dependerá em grande parte da identidade do futuro presidente dos Estados Unidos. Na opinião de Kagarlitski, o Kremlin definirá sua política com a China e a União Européia depois da eleição presidencial americana de novembro. "Se Washington pedir demais, os russos tomarão posições defensivas", considerou.
Dmitri Medvedev também terá que encarar o problema da inflação, que provoca uma insatisfação cada vez maior no país. "É a maior preocupação da população", afirmou Chris Weafer, economista do banco Uralsib em Moscou. "O objetivo já não é mais reduzi-la para 10%, mas impedi-la de chegar a 20%", acrescentou. A inflação da Rússia atingiu 14% em ritmo anual em abril. Além dos problemas de preços, que afetam diretamente os russos, Medvedev precisará lidar com os gigantescos problemas de infra-estrutura da Rússia, como a distribuição de eletricidade ou a vetusta rede rodoviária, alertou Chris Weafer.