TÓQUIO - O presidente da China, Hu Jintao, iniciou nesta terça-feira (06/05) viagem oficial ao Japão, a primeira visita de um líder chinês ao país em 10 anos, e provocou manifestações nas ruas de Tóquio contra a repressão chinesa no Tibete a poucos meses dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Apenas três anos depois das relações entre os dois gigantes asiáticos terem chegado ao pior ponto, Hu afirmou que sua viagem levará um espírito de amizade ao Japão, sócio comercial primordial apesar do ressentimento que muitos chineses sentem pelas agressões militares japonesas do passado.
O ministro japonês das Relações Exteriores, Masahiko Komura, recebeu Hu pessoalmente no aeroporto Haneda de Tóquio, onde era aguardado por mais de 200 diplomatas e empresários chineses com bandeiras e ramos de flores. "Japão e China são países importantes da Ásia e do mundo", afirmou Hu em declaração divulgada em sua chegada. "Com esta visita, espero aumentar a confiança mútua, reforçar a amizade e acentuar a cooperação", acrescentou.
Hu, segundo presidente chinês a viajar para o Japão desde o estabelecimento de relações diplomáticas em 1972, terá concedida a honra de se reunir com o imperador Akihito em três oportunidades ; mostra da importância que o Japão atribui a esta visita de Estado. No entanto, apesar dos esforços de reconciliação de ambos os países, a viagem corre o risco de ser ameaçada pela situação no Tibete.
Esta é a primeira viagem oficial de Hu Jintao ao exterior desde que explodiram os protestos no Tibete em março. Milhares de policiais foram mobilizados na capital japonesa para proteger o presidente chinês contra os protestos de nacionalistas japoneses e manifestantes tibetanos. Com bandeiras tibetanas, quase mil pessoas, entre eles tibetanos e chineses da minoria étnica muçulmana uigur, saíram às ruas do centro de Tóquio com cartazes com as inscrições "Hu Jintao, respeite o espírito olímpico" e "Não matem nossos amigos".
A China, sob pressão internacional devido à repressão aos protestos no Tibete, retomou no domingo as conversações com representantes do Dalai Lama. "Mas não gostaria que o governo chinês mantivesse estes contatos apenas para obter o sucesso dos Jogos Olímpicos de Pequim", afirmou em meio à multidão um refugiado tibetano, Kalden Obara, recebendo aplausos.
Em Pequim, as autoridades chinesas advertiram nesta terça-feira que a manutenção do diálogo com os emissários do Dalai Lama depende da sinceridade do líder dos tibetanos no exílio. Um dos emissários do Dalai Lama, Lodi Gyari, considerou, entretanto, em Hong Kong, que a reunião de domingo foi um bom primeiro passo.
Dada a postura conciliadora em relação à China do primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, o deputado opositor Yukio Edano pediu ao chefe de Governo que pressione Hu sobre a questão do Tibete. "Se a reunião do primeiro-ministro Fukuda com o presidente Hu Jintao é uma mera formalidade, significa que somos cúmplices dos crimes da China no Tibete", afirmou Edano.
O presidente chinês se reunirá na quarta-feira com Fukuda em encontro em que qualquer alusão a questões relacionadas à invasão japonesa da China nos anos 30 deverá ser evitada para não pôr em risco o êxito da visita.