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Em busca de um novo trabalhismo

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Tony Blair foi escolhido primeiro-ministro britânico em 1997, depois de 18 anos de domínio do Partido Conservador, com mandatos sucessivos de Margaret Thatcher e de John Major. Para que o Partido Trabalhista pudesse conquistar o poder, Blair baseou sua campanha em uma idéia inovadora: romper com o trabalhismo tradicional e deixar de lado os paradigmas conservadores para instaurar no país a Terceira Via, baseada na teoria do acadêmico Anthony Giddens, que buscava aliar liberalização da economia à manutenção de serviços sociais de qualidade. Os eleitores compraram a proposta, e Blair conseguiu três mandatos consecutivos. Agora, os trabalhistas precisam se reinventar novamente caso pretendam manter-se no número 10 de Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro. As próximas eleições parlamentares estão previstas para 2010. O atual premiê, Gordon Brown, que foi ministro das Finanças de Blair, quer permanecer no cargo, com o aval das urnas. Mas a tarefa será bastante complicada. A população está nitidamente cansada do Novo Trabalhismo. Os problemas são antigos. Blair já havia dividido a base partidária com sua decisão de enfrentar o iraquiano Saddam Hussein ao lado do colega norte-americano George W. Bush, em 2003. Passou a ser chamado de ;poodle; de Bush. A aproximação com Washington lembrava a aliança entre Thatcher e Ronald Reagan. Vários deputados trabalhistas se opuseram à intervenção militar, mas Blair seguiu adiante. Depois, buscou aprovar leis antiterrorismo mais rígidas, que tampouco foram bem recebidas por parte do trabalhismo. Um projeto de lei contra a incitação ao ódio racial e religioso também foi rejeitado pelo Parlamento. Os planos de aprofundar as privatizações nos serviços públicos, no sistema previdenciário, e aumentar as taxas de matrícula nas universidades enfrentaram grande oposição no partido governista. Ao menos a economia ia bem, se comparada a outras nações européias que já apresentavam sinais mais claros de estagnação. Hoje, nem esse mérito resta ao Partido Trabalhista. A expectativa para 2008 é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça apenas 1,8%, bem menos que os 3% de 2007. Confuso, sem saber qual fórmula mágica o governo poderia sugerir desta vez, o eleitor impôs ao trabalhismo, nesta sexta-feira, a pior derrota da legenda em 40 anos. Os conservadores venceram as eleições municipais com 44% dos votos, contra 25% dos liberal-democratas e 24% dos trabalhistas. O primeiro-ministro precisa tirar da manga uma ;quarta via; para sonhar com a vitória em 2010. O partido deve repensar seu papel depois da era Blair ; o mais bem-sucedido premiê que o trabalhismo já teve. O fato é que Brown e sua equipe deixaram de representar a mudança, a modernidade. Parecem perdidos entre a linha tradicional e a Terceira Via. Eles têm dois anos para corrigir o rumo ou naufragar de vez.