BERLIM - O barão Philipp von Boeselager, último sobrevivente dos conjurados que participaram do atentado frustrado dos oficiais alemães contra Hitler no dia 20 de julho de 1944, morreu, nesta quinta-feira, com 90 anos em Altenahr (oeste da Alemanha). Assim como seu irmão Georg von Boeselager, ele participou do atentado frustrado mais espetacular cometido contra o ditador nazista, que envolveu no total cerca de 200 pessoas.
A Operação Valkíria, batizada com o codinome de um plano oficial elaborado pelo regime nazista para conter eventuais tumultos, havia sido idealizada por oficiais da Wehrmacht, o exército alemão daquela época, que queriam eliminar Hitler por causa das derivações militares e ideológicas do III Reich. Segundo o plano, Claus Schenk von Stauffenberg deveria colocar uma bomba no quartel-general de Hitler na Prússia Oriental (hoje Polônia). Seus aliados aproveitariam então a confusão para perpetrar um golpe de Estado em Berlim.
O papel de Philipp von Boeselager era arrumar os explosivos e, dois dias antes da data prevista para o atentado, levar 1.200 homens de seu regimento de cavalaria da Prússia Oriental a Berlim para prender o chefe dos SS Heinrich Himmler e o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels. "Dois dias depois do atentado, quando estava levando meus homens a Berlim, recebi a mensagem de que o ataque havia fracassado", relatou o barão em julho de 2004. Hitler havia sobrevivido à explosão. Boeselager conseguiu voltar à frente do leste com seus homens sem que ninguém desconfie de nada.
Até o fim da guerra, o oficial carregou sempre com ele uma dose de veneno, no caso de uma detenção que nunca aconteceu, já que nenhum de seus cúmplices, muitos dos quais, como Staffenberg, foram executados ou se suicidaram na prisão, mencionou seu nome.
Nascidos em Bonn, os irmãos Boeselager tinham aderido à resistência militar em 1942, junto com o influente Henning von Tresckow, chefe de estado-maior na frente do leste. Católico praticante, Philipp havia ficado horrorizado com relatórios de SS descrevendo assassinatos de judeus e de ciganos na Europa Oriental.
Em 13 de março de 1943, Tresckow quis aproveitar uma visita de Hitler de Himmler à frente do leste para matá-los. Oito oficiais, entre eles os irmãos Boeselager, deviam atirar. "Oitenta milhões de alemães acreditavam no Führer, contra poucos que estavam convencidos de sua capacidade destrutiva. As dúvidas entre nós eram constantes", revelou o barão. Porém, os conjurados cancelaram o plano na última hora porque Hitler veio sem Himmler. Philipp von Boeselager se arrependeu até sua morte de não ter matado Hitler naquele dia. "Era naquele dia que tínhamos que ter atirado", lamentou. O fracasso do atentado de julho de 1944 adiou em mais de dez meses o fim do III Reich e agravou significativamente o balanço de vítimas judias, alemãs, soviéticas e aliadas da Segunda Guerra Mundial.