BUENOS AIRES - Milhares de agricultores argentinos retomarão, neste final de semana, os protestos nas estradas contra a política fiscal do governo depois de completada, nesta sexta-feira (02/05), uma trégua de 30 dias prometendo, no entanto, evitar provocar desabastecimento e continuar com as negociações, anunciaram os líderes do setor.
"Amanhã (sábado), 50 mil produtores estarão nas estradas realizando atos de protesto. Estarão mobilizados, mas de nenhuma maneira o abastecimento de alimentos e outros produtos será afetado", afirmou Eduardo Buzzi, líder da Federação Agrária, que congrega 100 mil pequenos e médios agricultores. Buzzi ressaltou à imprensa que, apesar de retomar os protestos nos acostamentos das estradas após uma dura paralisação de 21 dias em março, a direção agropecuária continuará as conversas com o governo na próxima semana.
"O objetivo é diminuir a atividade econômica do setor à quase subsistência. Vamos comprar o indispensável e vender o menos possível para pagar os gastos e subsistir", disse Pedro Apaolaza, dirigente de uma entidade que reúne médios produtores. As quatro entidades agropecuárias que participaram da greve anunciaram nesta sexta-feira, em coletiva de imprensa, que voltarão a se encontrar na próxima terça-feira para analisar a continuação das medidas de força, após uma reunião com o governo, que consideram chave para desatar o conflito. "As quatro principais entidades estão em alerta e mobilizadas em todo o país", explicou Buzzi junto com os outros líderes do protesto.
A trégua de um mês possibilitou negociações ásperas e somente se avançou quanto à questão das exportações de trigo e carne, após maratônicas reuniões com a presidente Cristina Kirchner. No entanto, a razão central da discórdia entre o setor e o governo é a soja, principal produto de exportação argentino e cujo cultivo ocupa mais da metade dos 30 milhões de hectares semeados com grãos na Argentina, cuja economia tem forte sustento agrícola.
O valor da colheita da oleaginosa é calculado para 2008 em 24 bilhões de dólares, dos quais o governo espera arrecadar em impostos 11 bilhões de dólares. Aproximadamente 250 mil produtores agropecuários organizaram em março uma dura greve e bloquearam 400 estradas, o que gerou graves problemas no abastecimento de alimentos e causou a primeira crise política que Cristina Kirchner teve que enfrentar desde que assumiu o cargo no último dia 10 de dezembro.
A polêmica decisão governamental consistiu em fixar a taxa da tributação em forma diretamente proporcional ao aumento dos preços internacionais, o que provocou uma irada reação dos produtores de soja, aos quais se juntaram os pecuaristas e os dos setores lácteos, de trigo e outros grãos. Os agricultores não aprovam o aumento do imposto de exportação e pedem que seja abolido, mas o governo acredita que o tributo fiscal serve para redistribuir a riqueza e se nega a ceder aos pedidos das quatro entidades, que estão em pé de guerra contra a maior pressão fiscal
Em contrapartida, as autoridades adotaram um esquema de subsídios aos pequenos produtores e agricultores de zonas marginais localizadas distantes dos portos de exportação, mas essa atitude não foi considerada suficiente pelos produtores agrícolas.