Itamaraty trabalha para repatriar catarinense

Joel Lemos, detido há dois anos por atentado à bomba contra outro brasileiro, é investigado por terrorismo. Família denuncia destrato

O caso do brasileiro Joel Lemos, 37 anos, preso há dois anos e meio nos Estados Unidos, será acompanhado de perto pelo Itamaraty. Essa foi a segurança dada pela chefe do Departamento de Imigração e Assuntos Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Mitzi Gurgel da Costa, em reunião com o deputado estadual de Santa Catarina Clésio Salvaro. O parlamentar, que também dirige a Casa do Catarinense ; instituição de apoio aos imigrantes do estado em outros países ;, veio a Brasília pedir apoio do governo federal para uma possível repatriação de Lemos. ;Queremos primeiro ter conhecimento do processo que corre contra ele lá, garantir que ele tenha direito à defesa. E, se for possível, tentar trazê-lo para o Brasil;, afirmou Salvaro antes do encontro no Itamaraty. De acordo com o deputado, Lemos escreveu diversas cartas para a mãe, dona Deomir, nas quais reclama do tratamento recebido na prisão onde está detido, no estado de Massachusetts. ;Ele disse que está com problemas de saúde e não recebe cuidados na cadeia;, conta o parlamentar. Ele lembra que o catarinense já teve diagnosticada uma espécie de retardo mental antes de sair do Brasil, há 17 anos. Lemos é acusado de colocar uma bomba no carro de outro brasileiro, o mineiro Fernando Araújo, em novembro de 2005, na cidade de Sormeville. A vítima, que teria tido um caso com a namorada do catarinense, teve ferimentos e queimaduras do lado esquerdo do corpo e quase ficou cego de um olho. Para o advogado Osvaldo Agripino Jr., indicado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para assumir o caso, na última semana, o fato de Lemos ser acusado de um crime contra outro brasileiro pode ser usado para pedir a extradição. ;O decreto-lei 1938 assegura que esse tipo de caso, independentemente do país onde ocorra, dá direito à extradição;, destaca Agripino Jr. Entretanto, o Itamaraty acredita que o processo não é tão simples. Primeiro, Lemos terá de ser julgado nos Estados Unidos. Se for inocentado, será expulso do país, já que não possui documentação legal. Caso condenado, poderá ser pedida uma transferência do preso, mas não a extradição. ;O processo depende da legislação americana, não da nossa. Se quiser voltar para o Brasil (após o julgamento), ele terá de escrever uma carta solicitando a transferência;, explica a ministra Mitzi Gurgel da Costa. O caso fica ainda mais complicado pois há ainda a suspeita de terrorismo: a polícia encontrou na casa da irmã do catarinense, Dina Lemos, que vive em Boston, uma caixa que pertence a Lemos contendo um Corão e um desenho que mostra a montagem de uma bomba. O MRE, no entanto, acompanhará a partir de agora o tratamento dado ao brasileiro. ;Vamos assegurar que ele tenha auxílio médico e garantir que a legislação americana seja cumprida;, afirmou a diplomata. Segundo ela, o governo brasileiro só soube da prisão de Lemos há poucos dias. Na semana passada, o preso já recebeu uma visita consular. ;Saio satisfeito com a resposta que tivemos no Itamaraty. Sabemos que agora ele estará assistido;, avalia Salvaro. A mãe de Lemos também tem esperanças de que ele volte para o Brasil. ;Se ele é culpado ou não, eu não sei. Mas eu só quero que o meu filho tenha um tratamento digno, porque lá estão tratando ele como um lixo;, lamenta Deomir. ;Para mim, ele caiu em uma armadilha. E eu quero que ele tenho o direito de se defender.;