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A 100 dias dos Jogos Olímpicos, a política prevalece sobre o esporte

Nas últimas duas semanas de percursos da tocha olímpica pelo mundo, polêmicas e incidentes derivados da causa tibetana dominaram os preparativos para os primeiros Jogos a serem organizados pelo gigante asiático de 8 a 24 de agosto

PEQUIM - A 100 dias da abertura, o interesse pelos Jogos Olímpicos de Pequim se apresenta ofuscado por compromissos políticos derivados da causa tibetana como comprovam os incidentes registrados no percurso da tocha olímpica. Na próxima quarta-feira, 100 cantores entoarão "Pequim te recebe", uma canção especialmente composta para os últimos 100 dias do périplo da tocha, em um concerto na capital chinesa. Nas últimas duas semanas, no entanto, foram as polêmicas e os incidentes que dominaram os preparativos para os primeiros Jogos a serem organizados pelo gigante asiático de 8 a 24 de agosto. A crise tibetana despertou uma oposição à realização dos Jogos em Pequim e apelos ao boicote. O percurso da tocha, desde seu início, viu-se ensombrecido por sérios incidentes, em particular em Paris (7 de abril). Várias personalidades, entre elas o presidente francês Nicolas Sarkozy, que presidirá a União Européia por ocasião da realização dos Jogos, ameaçaram boicotar a cerimônia de abertura para pressionar Pequim sobre a questão tibetana. Depois dos incidentes na capital francesa, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, falou de uma crise ao lembrar que, no passado, a entidade conheceu tempestades maiores e que pode superar mais esta. No entanto, o historiador dos Jogos Olímpicos, Patrick Clastres, julgou que a crise é muito profunda porque envolve valores olímpicos e revela à incapacidade do COI de ter qualquer influência sobre os direitos humanos, contrariamente ao que prometeu em 2001, quando Pequim foi eleita sede dos Jogos. Segundo o historiador esportivo Philippe Tetart, nunca antes se tinha alcançado este ponto em que as considerações políticas escondem totalmente o acontecimento esportivo. Além disso, ele sublinhou que a decisão de escolher Pequim foi uma transgressão às mais elementares regras da carta olímpica. Rogge pediu às potências ocidentais que deixem de hostilizar a China sobre os direitos humanos e reivindicou tempo para que o país possa realizar as reformas. "Precisamos de 200 anos para evoluir depois da Revolução francesa. A China começou em 1949", data do triunfo da Revolução comunista, afirmou. "Os jogos exercerão uma influência positiva sobre a evolução da sociedade chinesa e os próprios chineses sabem disso", acrescentou. Por sua vez, as autoridades chinesas ressaltam aqui e acolá que não se deve misturar esporte e política. "Os chineses foram os primeiros a boicotar os Jogos Olímpicos de Melbourne, 1956, em protesto contra a presença de Taiwan. ;São especialistas no uso dos Jogos Olímpicos para fins políticos", lembrou Clastres. Apesar de todas as desavenças, Pequim garante que a festa olímpica será um sucesso. "Há sete anos que estamos nos preparando", afirmou Sun Weide, um dos porta-vozes do comitê de organização dos Jogos Olímpicos chineses. "Tudo está pronto, será um sucesso", destacou.